terça-feira, 6 de abril de 2010

- Sangrar -


Pegadas de sangue marcam por onde passou um animal ferido. Ele diz: “quero sangrar”, “quero que o meu sangue seja semente para repovoar o mundo quando eu me for”.
Já rasguei o meu coração, abri e pus as entranhas pra fora, assim posso respirar, com os retalhos vermelhos faço um cobertor, é quente, é místico, me leva a viajar e sonhar contigo.
O xamã mistura ervas e provoca visões, enxerga a terra sangrar, os animais tentam se banhar nesse sangue para salvar suas vidas, mas aquele que dentre eles é bípede e sapiente bebe esse sangue, enche seus estômagos, assim devora-se a si mesmo e a todos de sua espécie e de todas as espécies.
O animal que sangra é feliz, de seu sangue se erguerá árvores, de seus ossos, revigoramento para os animais, de sua pele, algo parecido com o homem, o “ser – humano”, igualmente bípede, igualmente racional, mas que jamais perde a ternura.

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