quinta-feira, 29 de abril de 2010

- Pensamentos que produzem estrelas -


Era amanhecer e a Filha da Luz abrira os olhos, não se lembrara de ter entrado em uma sala fechada e ter deitado numa cama, tudo o que se lembrava era de estar nos braços de um homem que voava com asas de metal, quando de repente houve uma forte claridade, depois disso não sabia mais de nada. A curiosidade e espanto eram tantos que só percebeu a dor de suas feridas físicas depois de algum tempo, pois estava totalmente voltada para o fora de si.
A porta abriu lentamente, sentiu medo, pois desconhecera tal lugar. Ao término de sua abertura, a porta revelou um homem alto e de cabelos e olhos claros.
(HD) – finalmente você acordou. Disse o homem desconhecido.
(FL) – o que aconteceu? Perguntou ela.
(HD) – pelo que percebo ambos ansiamos pelo mesmo, saber o que houve com você.
A moça manteve-se em silêncio, e o rapaz permanecia em repousar seus olhos nela, parecia nunca ter visto mulher tão bela, ou sua cara apresentava, naturalmente, um aspecto de “boboca”. O rapaz então voltou a violar o tão sagrado silêncio.
(HD) – tudo que sei é que você estava caída no deserto quando a encontrei, então a trouxe pra cá. Você não lembra de nada?
(FL) – lembro de um homem que voava com asas de metal e de círculos que giravam, e deles escorria sangue.
(HD) – ahhh!!! Sei!!!! Pensou ele que ela estivesse delirando, pois seu estado não era dos melhores. – durma mais um pouco, precisa descansar!!! – a propósito, qual o seu nome?
(FL) meu nome...... (nesse momento veio-lhe uma lembrança muito ofuscada, como um acontecimento que se fizesse real e presente no momento em sua memória, e pôde ver, vagamente como em sonho, um homem a chamando de “Jolie”).... meu nome é ...... Jolie.
(HD) – prazer Jolie, eu sou o Cavaleiro Negro.
Após ter se apresentado, o rapaz, denominado “Cavaleiro Negro”, pôs se em direção a porta e saiu. Ela achou estranho, embora a olhasse como alguém que estivesse encantado, seus olhos não manifestavam nenhuma canção, mas apenas silêncio, perguntou-se se tal pessoa não teria alma, ou se tivesse, por que a esconderia de tal maneira?
Um dia inteiro havia se passado e ela mantinha-se na cama tentando buscar na memória o que haveria acontecido, perguntou-se também sobre o homem de asas de metal. O que teria acontecido com ele? Será que teria morrido? Nada se sabe.... apenas um sentimento de angústia e solidão na fria noite. Percebeu que, em uma das paredes do quarto, havia uma janela, decidiu então levantar-se e ir até lá, olhar para fora e ver onde estava. Pôde perceber que estava no alto de uma torre, e abaixo havia uma cidade com casas baixas e simples, viu também uma fogueira muito imensa, as chamas pareciam erguer-se ao mais alto dos céus levando com elas todos os pensamentos dela.
Pensativa, olhou mais uma vez para a fogueira que queimava os pedaços de madeira lá embaixo e avistou mulheres e homens que dançavam girando ao redor do fogo, aquilo agradara a seus olhos, e mais uma vez veio-lhe um vulto de lembrança que fez com que aquilo lhe parecesse familiar, viu-se numa noite dominada por uma imensa claridade lunar, usava um vestido longo e azul e movia-se ao redor da fogueira em meio à mulheres que dançavam nuas e homens que usavam máscaras portando chifres, em sua mão havia um punhal com o qual traçava no ar símbolos que não podia identificar. Mas pensamentos e lembranças assim vêm e vão como fumaça, mas o sentimento de saudade permanece.
Olhou então para o céu e viu uma estrela que piscava forte e surpreendeu-se a pensar uma frase em meio a todo aquele sentimento de saudade:
“tudo me parece fantasioso, mas o momento em que estive sob suas asas e você me protegia da chuva que caía naquela terra de lágrimas foi real”
Num outro lugar, que não se sabe se era distante ou perto de onde ela estava, um homem caminhava na noite, cansado, pois suas asas pesadas tornavam dura a caminhada, decidiu então sentar-se e descansar. Sentou e deitou, olhou para o céu, muitas estrelas, muitas constelações, mas havia nessa noite algo diferente em toda aquela harmonia estelar. Uma estrela piscava forte e tinha um brilho inigualável, ao observa – la, lembrou-se da moça que o chamava em seu sonho e que decidira ir procurá-la, pensou no que teria acontecido com ela, pois nada lembrava, no espaço de tempo entre ter saído do vale dos rios e ter chegado naquela cidade havia um “rombo”, um “buraco”, pois não sabia o que havia acontecido. Em meio a esses pensamentos pensou:
“Não me lembro de muita coisa, mas minha memória está marcada pelo momento em que, naquela chuva de tristeza daquele lugar, ela, com sua luz, aqueceu meu coração para que ele não esfriasse.”
No alto da torre, a mente da moça captava algo que não sabia e produzia pensamentos:
“O metal é frio, mas o bater de suas asas produzia ventos calorosos de humanidade.”
“Aquela estrela brilha, - pensou ele-, mas quero ver tal brilho nos olhos daquela moça novamente”.
“Quando saímos daquele lugar, não só meu corpo voou com o bater de suas asas, mas também os sonhos produzidos pelo meu coração”
“A noite é solitária, estou sozinho, mas meu coração ainda não voltou, acho que ela o deve tê-lo levado embora”
“Saudade, frio, sensação de solidão”
“Sinto como se me faltasse uma parte, como se necessitasse encontrar uma “outra parte””
“Eu penso, eu sinto, mas parece sonho ou mera sensação ou fantasia, ou será simples utopia”.
E pensaram os dois ao mesmo tempo: “preciso me completar em você”. E então, a estrela exerceu seu último brilho e apagou-se, os olhos do homem de asas de metal, pesados, fecharam-se. E a moça, ao virar-se para o interior do quarto, viu que o Cavaleiro Negro entrava pela porta e a convidara para ir lá embaixo onde ocorria a festa em volta da fogueira.

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