sexta-feira, 16 de abril de 2010

- O Nevoeiro -



























O mundo se esconde por traz de uma névoa, todas as cores são turvas, todos os movimentos que vejo parecem se deformar no espaço. À sombra de uma árvore, não percebo as folhas caindo, nem a chuva da qual me escondo nesse abrigo, vejo apenas rabiscos no horizonte contorcido ao qual minha visão apenas vê nevoeiros, orvalhos, fumaça, imagens contorcidas que se esticam e se encurtam.




Um espinho no meio do caminho me parece uma pedra, mas apenas sei a diferença na medida em que furo os pés. Meu corpo, nunca vi nem o percebi, dizem que sou alto, grande, mas não percebo nada disso, dizem que o mundo é cheio de cores e formas distintas, mas só vejo fumaça, rabisco e imagens contorcidas.



Dizem também que algumas pessoas devoram suas próprias cabeças e a dos seus semelhantes, devoram também estômagos e corações, nem a alma escapou, esta já foi devorada há muito tempo por seres de cabeças grandes comedores de cabeças.



Não vejo o belo, mas também não vejo aquilo que da beleza é desprovido, não vejo o bem, mas também nunca vi a maldade sendo posta em prática, mas percebo a sombra em meio a tanto nevoeiro, sempre me sento e lá permaneço quieto.... muito quieto....



Assim permanecia todos os dias de minha até então não percebida miserável vida, percebida sim, mas não concebia nem imaginava tamanha miséria, até que um dia, escutei um barulho muito alto e o chão rasgou-se e cai. De desacordado acordei, levantei, gritei, percebi uma árvore diante de mim, mas ela não produzia sombras, mas algo totalmente distinto. Não sei do que chamam essa coisa totalmente oposta a sombra.



“Isso se chama luz” respondeu uma voz.



Caminhou em minha direção um homem que possuía asas longas, pegou-me pelos cabelos e me ofereceu uma fruta da árvore. Eu, sem questionar, comi o fruto, que tinha gosto de espelho e cheiro de reflexo. O mundo, num piscar de olhos havia mudado, via formas definidas e coloridas. Não compreendi o que havia acontecido e fui capaz, pela primeira vez, de ver a mim mesmo, e ao me ver via o mundo que entrava em mim e tornava-se corpo.



“Não foi o mundo que mudou, disse aquela pessoa, mas seus olhos que mudaram.”



Agora sei que durante muito tempo, minha vista era repleta de nevoeiros e fumaças inexistentes e que isso mortificava minha vida.

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