terça-feira, 17 de maio de 2011

- Sobre a ditadura -


É estranho, mas agora, lembrando de minhas histórias, me dei conta de que todas as aventuras acontecem enquanto estou caminhando, pelo menos é assim que inicio quase sempre falando sobre as coisas que aprendi enquanto desbravava este obscuro mar que é o mundo. Essa história não se distingue muito das demais, sou cavaleiro andante e marginal, vivo às margens de minha própria vida, já fui muitas vezes a sorte de muitas pessoas, mas, não consigo ser minha própria sorte e nem permito que ninguém seja, pois, um guerreiro, orgulhoso como sou, deve ser capaz de salvar a própria vida...


... Mas, até agora me sinto ainda na margem, marginal, não conquistei esse território que é a minha vida...

Lancei-me para fora, a alma quando quer voa transcendendo os limites e entranhas do corpo, agarrei-me e puxei.... corporifiquei-me.... e vi que era bom....

.... mas, sou ainda marginal.....

Ó divindade, sacrifico todo dia meu sangue para vós....

Porém, hoje decidi beber do meu próprio sangue....

....e você me lançou no inferno.

Assim são as ditaduras. Dizem que foram extintas e que agora reina a democracia e com ela a liberdade. Liberdade? Uma vez uma mulher, velha mulher, me disse:

-- Desde quando ir para onde quiser e falar o que quiser é estar livre enquanto que só se vai e se diz de acordo com as possibilidades que lhe dispõem? Desde quando se faz liberdade somente com isso? Saúde roubada, sentimentos roubados, pensamentos roubados, subjetividade violentada sutilmente. Liberdade? A democracia democratizou e aperfeiçoou a ditadura, reproduziu, temos agora inúmeras ditaduras.

Então ela recolheu seus farrapos que lhe sobravam ainda de vida, pôs – se a caminhar rumo ao horizonte, pois, segundo ela, no final haveria um pouco mais de vida, mas sei que esse lugar não existe.