quinta-feira, 29 de abril de 2010

- Pensamentos que produzem estrelas -


Era amanhecer e a Filha da Luz abrira os olhos, não se lembrara de ter entrado em uma sala fechada e ter deitado numa cama, tudo o que se lembrava era de estar nos braços de um homem que voava com asas de metal, quando de repente houve uma forte claridade, depois disso não sabia mais de nada. A curiosidade e espanto eram tantos que só percebeu a dor de suas feridas físicas depois de algum tempo, pois estava totalmente voltada para o fora de si.
A porta abriu lentamente, sentiu medo, pois desconhecera tal lugar. Ao término de sua abertura, a porta revelou um homem alto e de cabelos e olhos claros.
(HD) – finalmente você acordou. Disse o homem desconhecido.
(FL) – o que aconteceu? Perguntou ela.
(HD) – pelo que percebo ambos ansiamos pelo mesmo, saber o que houve com você.
A moça manteve-se em silêncio, e o rapaz permanecia em repousar seus olhos nela, parecia nunca ter visto mulher tão bela, ou sua cara apresentava, naturalmente, um aspecto de “boboca”. O rapaz então voltou a violar o tão sagrado silêncio.
(HD) – tudo que sei é que você estava caída no deserto quando a encontrei, então a trouxe pra cá. Você não lembra de nada?
(FL) – lembro de um homem que voava com asas de metal e de círculos que giravam, e deles escorria sangue.
(HD) – ahhh!!! Sei!!!! Pensou ele que ela estivesse delirando, pois seu estado não era dos melhores. – durma mais um pouco, precisa descansar!!! – a propósito, qual o seu nome?
(FL) meu nome...... (nesse momento veio-lhe uma lembrança muito ofuscada, como um acontecimento que se fizesse real e presente no momento em sua memória, e pôde ver, vagamente como em sonho, um homem a chamando de “Jolie”).... meu nome é ...... Jolie.
(HD) – prazer Jolie, eu sou o Cavaleiro Negro.
Após ter se apresentado, o rapaz, denominado “Cavaleiro Negro”, pôs se em direção a porta e saiu. Ela achou estranho, embora a olhasse como alguém que estivesse encantado, seus olhos não manifestavam nenhuma canção, mas apenas silêncio, perguntou-se se tal pessoa não teria alma, ou se tivesse, por que a esconderia de tal maneira?
Um dia inteiro havia se passado e ela mantinha-se na cama tentando buscar na memória o que haveria acontecido, perguntou-se também sobre o homem de asas de metal. O que teria acontecido com ele? Será que teria morrido? Nada se sabe.... apenas um sentimento de angústia e solidão na fria noite. Percebeu que, em uma das paredes do quarto, havia uma janela, decidiu então levantar-se e ir até lá, olhar para fora e ver onde estava. Pôde perceber que estava no alto de uma torre, e abaixo havia uma cidade com casas baixas e simples, viu também uma fogueira muito imensa, as chamas pareciam erguer-se ao mais alto dos céus levando com elas todos os pensamentos dela.
Pensativa, olhou mais uma vez para a fogueira que queimava os pedaços de madeira lá embaixo e avistou mulheres e homens que dançavam girando ao redor do fogo, aquilo agradara a seus olhos, e mais uma vez veio-lhe um vulto de lembrança que fez com que aquilo lhe parecesse familiar, viu-se numa noite dominada por uma imensa claridade lunar, usava um vestido longo e azul e movia-se ao redor da fogueira em meio à mulheres que dançavam nuas e homens que usavam máscaras portando chifres, em sua mão havia um punhal com o qual traçava no ar símbolos que não podia identificar. Mas pensamentos e lembranças assim vêm e vão como fumaça, mas o sentimento de saudade permanece.
Olhou então para o céu e viu uma estrela que piscava forte e surpreendeu-se a pensar uma frase em meio a todo aquele sentimento de saudade:
“tudo me parece fantasioso, mas o momento em que estive sob suas asas e você me protegia da chuva que caía naquela terra de lágrimas foi real”
Num outro lugar, que não se sabe se era distante ou perto de onde ela estava, um homem caminhava na noite, cansado, pois suas asas pesadas tornavam dura a caminhada, decidiu então sentar-se e descansar. Sentou e deitou, olhou para o céu, muitas estrelas, muitas constelações, mas havia nessa noite algo diferente em toda aquela harmonia estelar. Uma estrela piscava forte e tinha um brilho inigualável, ao observa – la, lembrou-se da moça que o chamava em seu sonho e que decidira ir procurá-la, pensou no que teria acontecido com ela, pois nada lembrava, no espaço de tempo entre ter saído do vale dos rios e ter chegado naquela cidade havia um “rombo”, um “buraco”, pois não sabia o que havia acontecido. Em meio a esses pensamentos pensou:
“Não me lembro de muita coisa, mas minha memória está marcada pelo momento em que, naquela chuva de tristeza daquele lugar, ela, com sua luz, aqueceu meu coração para que ele não esfriasse.”
No alto da torre, a mente da moça captava algo que não sabia e produzia pensamentos:
“O metal é frio, mas o bater de suas asas produzia ventos calorosos de humanidade.”
“Aquela estrela brilha, - pensou ele-, mas quero ver tal brilho nos olhos daquela moça novamente”.
“Quando saímos daquele lugar, não só meu corpo voou com o bater de suas asas, mas também os sonhos produzidos pelo meu coração”
“A noite é solitária, estou sozinho, mas meu coração ainda não voltou, acho que ela o deve tê-lo levado embora”
“Saudade, frio, sensação de solidão”
“Sinto como se me faltasse uma parte, como se necessitasse encontrar uma “outra parte””
“Eu penso, eu sinto, mas parece sonho ou mera sensação ou fantasia, ou será simples utopia”.
E pensaram os dois ao mesmo tempo: “preciso me completar em você”. E então, a estrela exerceu seu último brilho e apagou-se, os olhos do homem de asas de metal, pesados, fecharam-se. E a moça, ao virar-se para o interior do quarto, viu que o Cavaleiro Negro entrava pela porta e a convidara para ir lá embaixo onde ocorria a festa em volta da fogueira.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

- Construção e Reconstrução Perpétuas, O Destino. -


Levantei-me com a imagem da moça me chamando, talvez eu tenha que partir e deixar essas pessoas com as quais lutei ao lado. Retornei para a cidade, estava disposto a ir embora, algo me chama a sair e encontrar aquela pessoa que vi em meu sonho, não sei para onde ir, mas sei que devo partir.
Chegando a cidade dirigi-me à governanta da cidade:
(AM) – vou partir, sinto que devo ir embora e deixar a cidade.
(G) – você fala de sentimentos, seriam eles maiores que o seu juramento feito perante a mim e a esse povo?
(AM) – sei que as palavras de um homem são como suas assinaturas no vento, e ao chegar aos ouvidos, os pactos e acordos são firmados.
(G) – que está acontecendo com você? Você, guerreiro voador e criador de vendavais, jurou proteger esse povo, só sobrevivemos aos ataques por sua ajuda. Esqueceu também que fomos nós que o encontramos agonizando na floresta e cuidamos de você? Onde está a tua gratidão e compromisso?
(AM) – sei de meu juramento, mas naquele momento eu era outro diferente de mim agora, “o mesmo homem não entra duas vezes no mesmo rio” (Heráclito), lembra dos ensinamentos que me proporcionou? De seguir para onde o fluxo do sangue bombeado pelo meu coração me levar e me mandar seguir? Aprendi muitas coisas, sei que só posso falar do agora, pois amanhã já não serei mais o mesmo.
(G) – vá, encontre o que procura, se é que encontrará algo distinto da morte, assim torço.
Falou ela com um sorriso irônico no rosto e chamando-me de traidor pelos olhos. Então virei as costas e parti, mas estava me sentido triste, pois aquelas pessoas me adotaram e me amaram, e eu disse que as protegeriam, mas decidi ir embora, aquela que nasceu do círculo de luz chama por mim, devo encontrá – la.
A dor nos ensina, e hoje me ensinou que o homem, que reconhece o devir em seu ser, em sua entidade, não deve fazer acordos, mas re-assumir a cada dia sua posição diante do sol.

terça-feira, 27 de abril de 2010

- Confrontando Antigos Monstros -


Terminada a guerra em meio à tempestades, a cidade se reestruturava, casas e vidas eram reerguidas do pó e da tristeza que havia sobrado, migalhas, meramente migalhas de vida, mas o bastante para levantar o rosto e contemplar a nova aurora de insondáveis dias que se acrescentarão na vida dessas pessoas que sobreviveram a horrores. Almas destemidas, corajosas, caridosas e cruéis quando necessário.
As águas de um riacho que ficava próximo à cidade começaram a se agitar, vi muitas pessoas correndo e carregando em seus ombros corpos não vivos.
(AM)- O que está acontecendo? Pergunto a um camponês que expele sangue pelas mãos, olhos e pés.
(CAM)- A criatura ressurgiu, o príncipe das moscas e animais devoradores de carniça, devoradores de tudo o que está putrefado, saiu do reino obscuro da morte e diz desejar sangue quente, fluente como o fluxo do “devir”.
Disparei – me apressadamente para o riacho, espinhos e pedras pontiagudas opunham – se a mim no caminho. Os caminhos desse lugar sempre são difíceis, furam nossos pés, mas fortalecem nossas pernas. O riacho está a minha frente, e vejo erguer-se da água uma imensa criatura de duas cabeças, em uma estava escrito: “coitado de mim”, e na outra “tudo posso”. Eu havia escutado uma lenda, muito antiga, que dizia haver uma criatura de duas cabeças que conquistava e devorava os mais destemidos guerreiros, homens invencíveis, Heróis, Deuses, todos eram devorados. Mas, como que tais homens podiam ser tão facilmente devorados por tal criatura? “coitado de mim”, diz com suave voz a primeira cabeça, grandes homens são misericordiosos, tem compaixão dos mais fracos, e esse é um erro fatal numa batalha, pois a medida em que “coitado de mim” convence o guerreiro, e este, comovido, baixa a guarda, “tudo posso”, com sua boca salivante de veneno e cheia de dentes, devora aqueles que o desafiam com um só golpe.
“Tudo posso” é violência, força, agressividade e aniquilamento em um instante, “coitado de mim” é retórica, língua afiada e persuasiva, convence a todos com seu discurso de miséria.
A criatura olhou – me com os olhos de “coitado de mim”, um olhar que perfura a alma, toque de flauta que encanta e iludi o íntimo do coração, guiando para o abismo.
(AM) - conheço sua lenda criatura bicéfala, não me enganará, sei que sua outra língua, guardada na outra boca, é cheia de veneno.
(C)-Você é astuto, homem de asas de metal, mas sua astúcia não é capaz de levá-lo muito adiante do fracasso que é a sua miserável vida, você, ainda chora pelos cantos procurando socorro, não é capaz de ter vontade própria, alma decadente.
(AM) - cale-se!!!!!!!!!!!!!
(AM) - da sua boca saem palavras venenosas que penetram em meu coração e fazem minhas pernas tremerem.
(C) - O que foi? Por que se incomoda? Que ferida é essa sangrando em seu coração? Em? Você não é muito mais do que um “menino chorão”.
(AM) - você nada sabe sobre mim, destruirei você e farei com que engula a própria língua. Criatura venenosa!!!! Provará do seu veneno!!!!!
( C)- sei muito a seu respeito. Essas asas de metal? Sabe como as conseguiu? Eu que as coloquei em você.
(AM)- O quê? Esse é mais um de seus venenos?
( C)- Lembra – se da cidade onde morava? Que foi destruída por várias criaturas ansiosas por sangue humano? Pois bem, eu estava lá... lembro de um garotinho, chorando, assustado, com muito medo, iria devorá-lo de uma vez só, crianças possuem um sabor mais puro, uma carne mais macia, mas quando aquela criança, chorando aos prantos me viu, disparou a correr. Persegui devagar, gosto de ver o desespero nos olhos de minhas vítimas, assim como vejo em você agora, o menino corria e eu me divertia com o seu desespero, o seu espanto diante da morte que se aproximava, nessa hora sua vida estava sob meu poder. Pensei em diversas formas de devorar-te, mas decidi parti-lo em dois para saboreá-lo com minhas duas bocas, mas quando o peguei, uma lança veio do céu e feriu-me a língua, e um guerreiro mitológico segurou-me o pescoço enquanto você corria, mas exalei meu veneno e cuspi em suas costas, você jamais conseguiria correr como daquela forma, jamais iria caminhar com as próprias pernas, seria humilhado por todos por ter asas tão pesadas, que o tornariam inútil. Vou devorar-lhe agora, menino chorão.
Um ódio terrível se apossou do meu coração naquela hora, bati minhas asas de metal como nunca havia feito antes, voei, e do alto dos céus produzi uma tempestade de furacões e tornados que, devida tão imensa força, lançou a criatura para longe. Mas antes de ser lançada pelos ares ela disse.
- Não imaginava que aquele menino seria capaz de voar tão com “asas de metal”.
Senti – me exausto, dormi um dia e uma noite à beira do riacho velado por uma luz que me aparecia em sonho e me chamava.

domingo, 25 de abril de 2010

- Guerras, Furacões e Tempestades -


Está escuro.... uma multidão corre descendo a ladeira....
Pressinto a guerra, o cheiro da morte me é adiantado pelo tremor em minhas pernas.
Homens e mulheres, a frescura jovial aparente em suas faces, o impulso vital de sua vitalidade que não quer se esvair.
Corremos em grupo para a névoa a qual adiante dela nada se vê, nada vejo, não vejo o inimigo, mas a multidão, o povo ao qual faço parte, as pessoas as quais quero estar unido.
Um barulho semelhante a um trovão rasgando o céu nos assusta, uma criatura de metal sobrevoa nossas cabeças tentando aniquilar nossas vidas. Corro para um abrigo, mas o fogo exalado pela criatura alada e metálica faz o concreto do abrigo ruir. Esconder? Quem garante essa possibilidade? Lutar? Não o alcanço, não posso voar!
Correria, caos, destruição e medo.
Mas adiante, ao lado, há um guerreiro incansável que salta para alem das nuvens e com sua lança derruba a criatura, o mito do guerreiro de uma flecha só, é sacramente manifestado.
A criatura alada de metal espira um grito de terror, e a pele de aço de seu corpo nada significa para a lança do guerreiro, que após desferir o golpe desaparece de diante dos meus olhos que se voltam para o chão. Homens grandes e fortes, astutos e velozes se dirigem até nós com seus punhos ceifadores de vida, a mim resta apenas me afastar, salvar a própria pele.
Mas não o posso fazer, os irmãos, amigos, companheiros de batalha devem morrer juntos, lado a lado, sei que será em vão, mas o sentimento é mais importante que sobreviver dessa maneira. Ao compreender esses pensamentos que me assaltaram, ouvi uma voz vinda de mim mesmo, porém oriunda de fora de mim: se você morrer não terá morrido de verdade, você tem asas de metal, com o bater de suas asas você pode criar vendavais e tempestades.
Senti uma dor terrível, minhas costas se rasgaram e compridas asas negras de um metal escuro surgiram. Posso agora defender meus amigos, posso cortar o ar e produzir tempestades.
Corro, corro para o combate, posso ver os ceifadores de vida diante de mim, a luta justa se faz no equilíbrio, a vitória digna se faz na igualdade entre os combatentes, não nos massacres, não na covardia.
O temor diante da dificuldade é comum, a compreensão disso é outro passo, arrancar forças de si e se lançar diante da morte é um pouco mais difícil.
A coragem nunca pode morrer!!!!
Meu inimigo milenar é veloz, a lamina de sua espada alimenta-se do sangue e da alma de pessoas inocentes, atiro-me diante dele, guerreiro maléfico combatente de todas as vidas e de todas as existências. Lados opostos pela eternidade, lados opostos desde a criação dos mundos, lados opostos desde que nos tornamos homens.
Fere meu espírito com seu olhar afiado de veneno, besta de coração e alma peçonhentos, sinto – me sangrar das profundezas do mistério que sou e que permaneço. Do céu, cai a lança de guerreiro milenar e mitológico, tão leve quanto posso segurar, arma feita de sangue e aço no altar.
Guerreiro milenar ceifador de vidas, seu coração negro, perfurado, jamais bombeará veneno por meio de seus olhos, mas suas lágrimas podem lavar suas futuras atitudes e vidas.


- Ser minha própria fortaleza -


Hoje, fui atacado no local em que me sentia seguro, olhos controladores surgiram no escuro, olharam-me e me atacaram jogando veneno em meus ouvidos. O veneno escorreu, penetrou em minha mente, mas, me surpreendi, os pensamentos que compõem a orquestra do todo do íntimo estavam fortalecidos.
Fiquei contente, força oriunda do Tempo, o Tempo me tornou forte, sai do meu refúgio, pois lá me tentaram envenenar, o veneno entrou, mas seu efeito está enfraquecido.
Nessa hora senti necessidade de um refúgio, mas este estava tomado por línguas de fogo e sedentas de veneno, percebi então que agora, tenho que ser fortaleza para mim mesmo, tenho que ser o meu próprio refúgio. Sobrevivo agora em minha própria vida, os telhados do antigo refúgio construído com pupilas e lentes me impediam de crescer, mas o Tempo, o Tempo me ensinou a ser forte para abrir um buraco nesse telhado para que eu possa me expandir.
Ainda estou aprendendo a andar com minhas próprias pernas, o telhado de lentes e pupilas ofuscava-me o sol, minha vista, durante muito tempo, era turva, e meus ossos, fracos. E minhas asas, a cada dia, tornam-se mais leves.

- Quando a Filha da Luz está distante -


Não sou anjo.....
E nem tenho asas de anjo....
Não sou pássaro......
E nem tenho asas de pássaro....
Mas se tivesse, voaria para onde você está!!!!!

Minhas asas são de metal, pesadas....
... não posso voar para longe.
Mas se um dia puder voar
Voarei para o lugar onde você está

Algumas pessoas criam gaiolas e silenciam seus corações
Encerram uma voz que anseia ser escutada.
Mas a voz transcende os muros e os arames e fala pelo corpo, pelo toque, pelo abraço...
A forma com que me abraça e segura em mim, permite meu coração estar sempre livre.
Asas de metal
Leves como o vento
Suave como a alma sentimental
Um beijo que transcende o tempo
Para alem do transcendental.

- Como voar com asas de metal -




















O homem de asas de metal pergunta-se....
Para que servem as asas se para voar não servem?
As asas de plumas são leves e grandes, permitem um vôo tranqüilo e seguro, mas com asas de metal não se levanta vôo, com elas até a caminhada se torna dolorosa. O homem de asas de metal caminha pela estrada em direção oposta ao vale dos rios, quer sair daquele lugar e mostrar àquela moça que nem tudo é tão terrível. A cada passo, buracos no chão fazem suas pegadas, asas pesadas, penumbra nos olhos, visão ofuscada.
- Tempoooooooo.....
- Espaçooooooooo..........
-Me ensinem a voar com asas de metal!!!!!!!
-Minhas pernas não são fortes o suficiente para caminhar sozinho!!!!!!!
Assim grita e lamenta o homem de asas de metal. Assim lágrimas escorrem de seu coração inundando todo o corpo e vazando pelos olhos.
-Asas, servem para voar, pernas, para caminhar. Soou uma voz de entre as ruínas das antigas estruturas que insistem em permanecer.
- Isso eu sei, todos sabem, mas me ensine a voar e caminhar com asas de metal! Disse aquele de asas pesadas.
-Se não voa, se não caminha, se não consegue combater, o motivo é simples, você é o fracasso. As estruturas são fortes, nem a chuva e nem o sol que as transformaram num paraíso de trevas enevoadas as reduziram para alem de suas ruínas. Ruínas, modificações de uma construção para algo desprovido de beleza, é o que sobra quando o véu, que tornava algo demoníaco em uma obra de arte, se rasga.
- Estruturas, prédios e edifícios derrubados, mas suas plantas fortificaram raízes na alma do mundo, suas palavras me fazem desejar destruir a mim mesmo. O vento sopra, o ar se movimenta ausentando calor, o metal esfria e a dor aumenta.....
tempo tempo mago velho....
Tempo tempo mago velho..........
-As estruturas antigas apenas assustam, mas na verdade não são de concreto, mas sim de espuma, e somente aos fortes é confiado o mais pesado.... Assim diz uma voz no vento.
- Que voz é essa que rasga o vento e preenche meus ouvidos?
- Me chamo Tempo, o mago velho, o feiticeiro jovem, o espírito que há de nascer, o ser que sempre é. Asas de metal, frias.... penumbra nos olhos impedindo a visão.... vim lhe mostrar, vim lhe ensinar a ver e enxergar, compreender e depois voar com asas de metal. Tempo, mago, decorrer do milagre na vida, a transformação do que se pensa ser naquilo que se é.
Falou assim um velho misterioso de chapéu branco e de barba comprida, filho da eternidade que nunca e sempre passa, tempo, mago, magia, transformação, alquimia.
O homem de asas de metal começa a fortalecer suas pernas, inicia a sustentação de suas asas, posiciona-se diante das antigas estruturas e as desafiam, demônios saem de lá, seguram seus braços e furam seus pulmões, respirar é difícil diante daquilo que assusta.
Mas, mesmo com dificuldade em respirar diante das sombras demoníacas e desafortunadoras, aprendeu, ao ouvir e compreender as palavras da boca Temporal, a tornar leve suas asas.
Asas de metal, agora cortam o vento velozes, produzindo furacões, o vendaval é filho de suas asas pesadas agora tornadas leves, as trevas da escuridão são varridas e descristalizadas, os tijolos e o concreto são lançados á correnteza lacrimejante que tudo leva embora e devora. A penumbra de seus olhos esvaiu-se e pôde ver que por trás da face mortífera das estruturas há um sol, uma estrela, uma montanha, um caminho florido e plumas e pétalas cadentes do céu......
Assim se voa com asas de metal, assim se fortalece as pernas para se sustentar no combate....
O Tempo ensina, se personifica no mago velho para mostrar que tudo está no tempo e o tempo em tudo. Magia, alquimia...... transformação e metamorfose.....
- Os nossos limites somos nós que determinamos, e não vejo mais um horizonte ao qual não possa rasgar com o meu vôo levando você em meus braços. Falou assim para aquela que outrora havia nascido do círculo de luz.

- Almas aprisionadas -


Você abriu os olhos, horizontes profundos aos quais vejo o nascer do sol
Que se esconde quando pisca seus olhos.
Olhos solares com os quais ao acordar me observa.
Olhos que inspiram dúvidas, incompreensão.
Eu também não sei e não compreendo, apenas estou aqui.

Olhos com os quais observa os círculos, de alguns escorre sangue, de outros caem lágrimas, de outros, braços e pernas agarrados a corpos despidos, braços e pernas agarrados a objetos quadriculados, homens agarrados em anzóis, homens pendurados pela língua, homens carregando pedras enormes e pesadas. Homens que não sabemos se são mulheres ou homens, apenas são sombras da vida que deveria aparecer. Alguns são pequenos, muito choro e ranger de dentes, vale de lágrimas denominado de vale dos rios, planície dos círculos, correntes que aprisionam almas.
Menina – mulher, Filha da Luz, observa e inunda seus olhos com lágrimas, sente em sua alma a trágica canção daquelas almas, que giram, giram, e não saem do lugar. Sua tristeza é capaz de trazer tempestades. A chuva traz água, diferente de lágrimas dessa vez, fenômeno estranho nesse lugar, e molha o rosto daquela moça que, ao nascer, contempla a miséria dos círculos de almas acorrentadas. Por essa razão que muitos reconstroem seus círculos e retornam para as correntes, essa visão é para homens e mulheres de fibra, força e dureza para manter o olhar erguido.
O vestido da moça está molhado, ergo minhas asas de metal e a protejo da chuva e ela, com sua luz, nos aquece naquela fria tristeza que mortifica qualquer espírito.

- Aquela que nasce por meio da luz -



Toda estrela é um círculo de luz, na circularidade, tudo que morre renasce mecanicamente, mas, quanto mais radiante a estrela, mais intenso se torna o toque entre o princípio e o fim. A interseção está em qualquer lugar do anel circular, morte e vida conversam e se tocam.
Quanto mais luz, mais calor, calor intenso, aço fundido e quebrado, o alfa grita e ômega suspira, não mais se tocarão, os braços se afastam, os dedos não se tocam mais, a vida presa ao círculo não renasceu para a circularidade. Do círculo rompido surge uma menina – mulher, gerada a partir da luz do círculo quebrado, do calor radiante a imensa luz.
Menina – mulher, filha da luz, que escuta a canção que vem do brilho dos diversos olhares.
Aqui nesse lugar do vale, há vários círculos, alguns são de pedra, outros de ferro, prata ou ouro, mas são raros os que adquirem luz, mais raríssimos os que se quebram, e mais próximo da impossibilidade aqueles que resistem e não reconstroem o círculo.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

- O caminho daqueles que se perderam de si mesmos -


Caminho pelo caminho daqueles que se perderam e não mais encontraram a si mesmo. Para encontrar-se a si mesmo deve-se perder-se. A erupção de um vulcão a muito adormecido faz as pernas daqueles que convivem com o homem de pedra tremerem.
O homem de pedra não pode se entregar ao fogo, mas no passado, era magma. Eu, ao contrário disso, caminhante que perdeu-se de si no vale sombrio da água escura, fadado a carregar asas de metal em minhas costas, asas pesadas, que não são úteis para voar.
Asas de metal, para que servem?
Asas de pássaro servem para voar, mas podem ser despedaçadas até sangrar.
Asas de metal sangram? Sim, sangue escuro, viscoso e nada gracioso, mas não é despedaçada. Quem me dera pudesse despedaçar o metal, mas se não consigo, devo aprender a conviver com isso.
Sem combustão anseio em queimar.
O fogo tudo separa, eleva e faz declinar.
Quero que meu corpo queime e se transforme em fumaça
Quero beber o cálice da morte.
Quero chorar e me lamentar pelos homens que não se decidem em morrer.
Homens, infelizes e miseráveis, bebem da cristalina água do lago das lágrimas, lago central e alimentador do “Vale dos Rios”.
E eu, anseio em morrer, mas não beber dessas águas.

- Vale dos Rios -


Eu, após ter caído de um astro celeste, levanto-me do chão e tenho consciência de estar num lugar nunca antes contemplado por minha vista. Mais adiante vejo três pessoas andando, chamo a elas, mas não escutam ou me ignoram, aproximo-me um pouco mais e percebo que essas pessoas tiveram os olhos arrancados e em seus rostos, havia cicatrizes que formavam palavras, no primeiro estava escrito “lágrimas”, no segundo, “visão” e no terceiro, “vale”.
Eles dirigiam – se para uma pilastra de concreto que havia no meio do caminho, me aproximei, pois fui tomado de intensa curiosidade, diante da pilastra, começaram a tocá-la, mas qual o sentido de tocar uma pilastra?
Não havia observado direito, mas ela estava repleta de símbolos e de palavras, e mais abaixo vi algo que me provocou terrível pavor, havia nesse muro três pares de olhos presos, e próximos a eles estava escrito: “choro eterno para alimentar o vale que não mais é visto”. Tudo era tão misterioso e triste, aqueles pessoas, implorando pela visão, e seus olhos covardemente arrancados e presos no muro, condenados a chorar eternamente, perguntei-me, que cruel demônio poderia ter feito tamanha atrocidade?
Um dos olhos virou-se para mim, agigantou-se, e me engoliu, era como se entrasse no seio da terra, mas não era só terra, mas também água salgada, vento frio e fogo. Não sei onde estou agora, vejo planícies, mas não vejo horizontes, vejo claridade cinza, mas não vejo nenhum sol, mais adiante há uma fila de homens com a barba crescida, dirigem-se a um despenhadeiro, sigo atrás deles para ver o que está acontecendo. Lá em cima há um barranco, e mais abaixo um lago, e desse lago originam – se muitos rios, mas não vejo nenhum mar.
Os homens, um a um, deslizam pelo barranco em direção ao lago, alguns se afundam e desaparecem, outros são arrebatados aos céus, percebo que estou numa fila, a minha vez está se aproximando. Pânico, pavor, medo de se afogar, suor frio minando do fundo da alma. Meus pés suados e trêmulos escorregam e caio no barranco, mas uma mão me segura e me ergue dizendo: “calma, ainda não é a sua vez”.
- Que lugar é esse? Pergunto a ele.
- Que diabos você faz aqui? Esse é o “vale dos rios”, e aquele é o “lago das lágrimas”, suas águas brotam da dor de todos aqueles que nele se afundam, toda dor humana, toda tristeza, todas as maldades, melancolias, tudo se materializa e alimenta esse vale. Estar aqui é aniquilar todas as possibilidades e você, com essas asas de metal, irá afundar, as lágrimas encharcaram seu coração e aprisionaram sua mente, todas as possibilidades de vida lhe serão negados, todos os sorrisos contemplados serão apagados, todos os abraços, as despedidas e os reencontros, as palavras bonitas ditas e ouvidas, os mais doces perfumes com os quais já se encantou, as almas com as quais conversou, tudo é devorado, tudo é arrancado da mente e do coração. Do coração!!!!
Do coração!!!! Do coração!!!! D o c or a çã o ! ! ! !
Essas palavras ecoaram em minha cabeça e parecia que a mesma iria partir e se abrir e sairia algo de dentro dela. Dei um passo, outro passo, caí de costas e deslizei barranco abaixo, meu corpo patinava sobre as lágrimas do rio, flutuava, perguntava-me quando que meu corpo afundaria e seria tomado por toda aquela melancolia funesta.
De repente senti um sopro que me levou para cima, meu corpo ficou paralisado, tentei olhar para baixo, mas meu pescoço endureceu e tudo ficou branco, houve um dia e uma noite, e então fui expulso pelo céu que estava e lançado à terra.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

- Black Knight -


Caminhante das trevas.
Caçador daqueles que se dizem caçadores!
Amante da morte e provador do cálice de águas obscuras oriundas das sombras

Ouve os sinos das igrejas tocando, mas não se ajoelha...
O Cristo já morreu... Deus também morreu, mas renasceu em sua alma.
Passos que correm na escuridão
Mistério ao olhar para o rosto escondido num elmo escuro.
Será um homem, um deus ou um demônio?

Caminhante errante pelo caminho de luz e escuridão.
A luz tudo clareia, menos a sua alma, lá, luz alguma pode tocar, sua alma é de trevas!
Sua canção? O silêncio!
Caminhante errante cantante no silêncio, silêncio de sua alma silenciosa.
Alma? Alma sem cor, sem cheiro, sem calor e sem sentido, mas não por não ter sentido, mas pelo sem sentido ser o sentido.

Cavaleiro Negro, caçador de caçadores, apaga e acende a luz quando necessita... acende...
Transcende....
Mas não voa, pois seu destino é ser fortaleza.

Ele é aquele que caminha sobre as águas nascidas e nutridas pelo nada, pelo vazio, o vácuo repleto de tudo, de estrelas da escuridão, aos quais se pisa com os pés...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

- Sonhos não existem (o desfecho) -


A chuva cai, e molha o meu rosto de Soldado.
A chuva cai, e molha a minha alma de Guerreiro.
O fogo cai, o fogo queima e devora os espíritos que ousaram entrar no reino da morte.

Morte, bela mulher sombria de vestes escuras, todos os seres a beijam, a tocam...
Mas eu não a quero beijar...
É impossível fugir ao inevitável

O toque de seus lábios rasga os horizontes,
Quente, frio, rápido, corredor de luz e trevas....
Um punhal cravado em meio peito
Arranco o meu coração, escrevo nele uma frase e o atiro sobre as pedras...

Meu coração voa sobre as pedras
Meu coração voa sobre as pedras
Pedras de agulhas banhadas pelo mar ensangüentado
Alimentado de sonhos e pensamentos naufragados,
De corações e mentes amarrados e esmagados.

Meu coração voa sobre as pedras e a morte me conta histórias
O horizonte rasgado me faz ver a moça sentada no jardim gramado segurando um retrato.
O corpo se desintegra, mas o coração foi salvo,
Meu coração que voa sobre as pedras leva uma mensagem escrita por unhas e punhais.

“Mesmo que arranquem seus braços e pernas, sempre é possível renascer das cinzas.”

“Seu eternamente”

- O cálice da morte -


Hoje acordei desejando morrer, mas como executar tão árdua tarefa?
Por que morrer é algo tão sofrido, difícil e incompreendido?
Retirei-me para as montanhas, é esse o local onde os grandes homens caminham quando querem estar próximo daquilo que não se compreende para tentar compreender. Mas como entender de algo que não se vê? Como se vê aquilo que está no escuro? No escuro, o que há alem de sombras? Mas na realidade nem sombras existem na escuridão. A escuridão, as trevas, é em si mesma, quando se põem em si, totalmente plena, absoluta, guardadora de mistérios.
Então, se nas montanhas estamos mais próximos de contemplar aquilo que é misterioso, e a escuridão é guardiã dos mistérios e a morte é o maior mistério humano, será então possível compreender a morte em meio à escuridão de uma montanha e assim conseguir morrer?
Ao pé da montanha há um ermitão cego que carrega consigo uma vela apagada na mão direita. O que significa essa vela? Pergunto – me. Será ele maluco?
Ao perceber minha presença pronuncia algumas palavras com uma voz serena dizendo:
- A morte é a mais bela de todas as criaturas. A morte traz consigo a fonte causadora do viver e do vir- a – ser. A morte contempla o ser. Ao se deparar com a morte é impossível não se apaixonar e não desejá-la. Sua voz é o combate, é o sangue que se derrama a cada momento.
Dita essas palavras o ermitão deitou – se ao chão e dormiu desejando a eternidade.
Terrível escalada, terríveis trilhas, terrível escuridão. Pelo menos já me encontro nas trevas da escuridão, a morte deve estar me espreitando nesse momento, deve estar ao redor de meus ouvidos sussurrando suas canções que penetram em minha mente silenciosamente, num silêncio ensurdecedor que devora meu espírito e faz minha alma cantar.
Sinto que meus pés estão ficando molhados, prossigo mais adiante e a escuridão que dominava minha vista agora se torna um pouco mais cinza, possibilitando – me enxergar um pouco mais, observo a água a qual estou pisando, ergo minha vista, um pouco mais adiante, percebo que ali há uma nascente.
Pelo menos “matarei a sede” pensei eu sem perceber as palavras que surgiram nessa frase.
Ao entrar no lago formado pela nascente, um cálice emergiu diante de mim, aproximei – me dele para tocá-lo, desejava olhar em seu interior, utiliza – lo para matar minha sede. Foi quando escutei uma voz feminina dizer:
- Nem todos que estão diante desse cálice estão prontos para morrer, e aquele que tomar desse cálice sem nobreza suficiente para morrer contemplará a face sem rosto da morte. Quem é você caminhante?
- Sou aquele que veio beber do cálice da morte e oferta-lo a todos aqueles que desejarem morrer. Respondi direcionando minha vista àquela que possui belíssima voz, e pude ver uma belíssima mulher vestida de trajes negros da cor da noite, de cabelos obscuros, de lábios obscuros, de um olhar obscuro e misterioso, toda a sua alma estava velada ao meu olhar, permanecia toda no mistério.
- Quem és tu moça?
- O ato de morrer só pode ocorrer mediante a morte. Como queres morrer sem ter conhecido a morte? Aqui estou, pode contemplar a minha face.
Pude então tocar em teu rosto, a face oculta da morte, que traz beleza, que traz vida, mistério na obscuridade, ela é toda obscuridade, toda segredo.
Alguns dizem que o beijo da morte faz morrer, mas é necessário morrer para que se possa renascer o novo a partir do antigo. Tomei - o nas mãos, e derramei em minha boca um líquido escuro - esverdeado e amargo, o sabor da morte penetrando em meu corpo é amargo, frio, rasga todo o interior do meu corpo, a mente é trincada e se transforma em areia e a partir dessa areia é erguido um novo castelo feito por mãos de criança, mas cada novo tijolo é uma nova dor, cada templo que se torna ruína é uma nova dor, cada olho libertado, cada ouvido reaberto, tudo é uma nova dor, dor latente e dilacerante, transforma a vida em pó e a faz surgir novamente de maneira diferente, com muito mais dor, com muito mais sopro, a vida possui mais vida, se possui a si mesma, apodera-se, devolve-se para si mesma por meio da morte.
E conhecendo a morte aprendi a morrer, carrego comigo agora seu cálice e oferto a todos aqueles que desejam morrer.

- A história de um viajante -


Ao amanhecer de um dia entre uma infinidade de dias da vida de um viajante, este em sua jornada, após ter desafiado aos deuses, após ter sido escravo dos espíritos e se libertado, após ter sentado à mesa e convivido com reis e também com servos, sendo os últimos estando a serviço de um imperador, de um deus tirânico ou de si mesmos, extraiu do fundo de sua alma algo que encontrara na realidade que testemunhou em todas essas situações: que não são de títulos que se fazem os homens, e sim de atitudes conforme a sua honra de existir como “ser” humano.

Não há motivos para que um homem se ajoelhe diante de um deus e se humilhe aos seus pés implorando por algo que a natureza divina concede a todos. Não há por que exitar e temer ao sentir vontade de executar algo que deseje com medo de uma repressão divina, todo deus que pise com seu santíssimo pé na dignidade humana deve ser confrontado, todo deus que não compreende e respeita a natureza humana é falso

terça-feira, 20 de abril de 2010

- A trindade humana -


Aqueles que são cegos no espírito encontrarão apenas muros em seus caminhos;
Aqueles que são cegos no intelecto se depararão com fortalezas rodeadas de imensas muralhas em que jamais poderão entrar;
Aqueles que são cegos no instinto ao terminarem suas vidas encontrarão apenas um imenso abismo.
Porém, aquele que harmonizar-se por inteiro em corpo, mente e espírito, aquele que reconhecer – se como um centro entre polaridades e pares de opostos, conhecerá a si e ao universo e saltará acima dos muros, encontrará passagens em muralhas e construirá uma ponte para atravessar o abismo.

sábado, 17 de abril de 2010

- Para a mais bela moça -

Virada do ano, fim e início se reunindo num só momento. Tenho desejo de passear, segurar a palma da mão da mais linda moça, erguer – la e pedir que escreva seu nome no meu coração. Tenho desejo de sentar num banco de praça e abraçar a mais bela moça e depois a levar para sua casa e beija-la em frente ao seu portão. Tenho desejo de rir assistindo aos inconvenientes engraçados da vida e simultaneamente, contemplar o sorriso da mais bela moça. Tenho desejo de ficar uma noite inteira sem dormir por estar preocupado com o estado da mais bela moça. Bela moça, assim a chamava quando me colocava diante da escuridão da noite e ao olhar para as luzes de um espaço distante, desejava te conhecer. Bela moça, meus pensamentos emaranhados de desejos atiravam – se janela afora, minhas palavras em busca por ouvidos sagrados gritavam silenciosamente por um nome que eu não conseguia saber. Bela moça, três meses e dezessete dias passaram - se, trilhei por um mapa desenhado no pergaminho da vida para estar aqui, e ver que o brilho das luzes do espaço distante às quais direcionava os meus olhos encontram-se agora nos seus.

- Ensinamentos para um jovem guerreiro -


Golpes desferidos no ar que rasgam o nevoeiro e abrem espaço para a luz tocar o chão.
Chão, solo dilacerado por raios disparados dos pés daqueles que executam poderosos movimentos.
No céu, estrelas esmagadas por punhos cerrados.
Assim são os guerreiros fortes e virtuosos
Assim o aprendiz deseja fazer e ser.

Sobrevivendo a cada movimento da boca de seu mestre que desfere palavras que cortam o corpo em mil pedaços:

 Sempre olhe nos olhos do teu inimigo, pois os olhos dele refletem aquilo que a alma planeja.
 Evite o olhar ingênuo, pois a mais doce criança pode ferir-lhe o coração mortalmente.
 Mantenha uma postura ereta, conhecemos os grandes guerreiros temidos pela maneira que se portam num combate.
 É desonroso derrotar aqueles que são mais fracos que você, não há virtude nisso, mas sim a canalha.
 Desafie e enfrente sempre aqueles que são mais fortes, pois suas vitórias serão gloriosas e seus feitos serão lembrados por gerações e gerações. No combate com o mais forte é necessário superar a si mesmo para superar o inimigo, pois se mantendo como mais fraco, perderá a cabeça e as partes do corpo.
 Um guerreiro nunca abandona um amigo diante de uma possível derrota, ou ambos contemplam a face da morte, ou ambos se deleitam com a vida repleta de cicatrizes, que serão futuramente símbolos de uma grande amizade.
 Um guerreiro não deve amar sua pátria em uma guerra, se possível nem guerrear, pois os interesses não são seus, mas sim de homens covardes e corruptos que cobiçam o poder.
 Caso o líder seja virtuoso e justo, merecedor do guerreiro, nesse caso deve-se dar a vida pela pátria.
 O guerreiro deve lutar utilizando a mente e também o coração, sempre juntos, nunca um acima do outro.

Assim fala o mestre ao seu discípulo, assim o ensina não apenas a manejar uma espada, mas ao efetuar cada golpe, o fazer com sabedoria.

- Dança milenar -


Sob a escuridão das trevas da noite ouço vozes dançando no ar enevoado, entram e saem pelos meus ouvidos me dizendo “poder levar para mais alto”, mas a canção, o som, solidão de um momento cujo vento é fresco, refrescante ar enevoado que em seu movimento se torna vento, assombroso, escuro, invisível.
Algumas lágrimas que caem no chão estremecem todo o ambiente quadriculado e fechado com janelas que apontam para o horizonte estrelado do lado de fora do quarto, quarto enevoado de luzes apagadas, de vozes que dançam no ar e pousam nos ombros como borboletas querendo deixar em algum lugar seus descendentes.
Noite escura, trevas, beleza, silêncio amado e raro nas cidades. Nas cidades o ar, o sol, a chuva, o silêncio são abocanhados pelo caos desordenado ao qual se pensa ter enquadrado em caixas e delimitado em palavras.
Paro, deito, direciono o olhar para as árvores que se movimento numa dança milenar, na noite, no vento ou na tempestade não contemplada pelos olhos comuns dos mortais.
Humanos, “mortos tocam a vida, em vida contemplam a morte” (Heráclito), o comum dos homens mortais sonhadores em serem imortais.
Dançam na noite sobre suas catacumbas escavadas por suas mãos de unhas cumpridas, escavadas no dia por amor ao estar e ficar sem nada fazer. Humanos, homens, homo sapiens, bípedes. O ente que dança nas sombras da noite quer inverter sua polaridade no jogo do ying yang.
Luz e trevas, trevas e luz, uma ponte, um rito, a passagem pelo movimento....
......pela dança milenar que vaga entre os mundo opostos permitindo retirar – se a si mesmo da sombra de seu coração e de seus pensamentos.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

- Reflexos de vida -


Demônios......
Homens que se tornam anjos e decaem de seus paraísos.......
Anjos.......
Homens que voam em seus sonhos e criam paraísos terríveis............
Todos os dias, na mesma praça, um velho sempre permanece sentado a contemplar com seus vazios olhos a paisagem ilustrada por diversos elementos naturais. Seus olhos vazios encharcam e se embebedam das cores vivas que alimentam seus olhos mortos.
Uma folha cai diante dos pés daquele que das cores é contemplador, seu rastro no ar em queda livre traça uma linha horizontal invisível, linha de tecido, tecer a vida, que como numa queda, o espaço anterior apenas é o que vem antes, porém na realidade não vêm, ficou e se apagou. A folha toca ao chão, o impacto a machuca, mas nada sente, as folhas mortas nada sentem, nada percebem, apenas decaem do topo da árvore ao mais frio chão de pedra da praça.
Olhos vazios.....
Olhos vazios do velho.....
Sugadores de alma.... predadores de espíritos...... da beleza da natureza refletida numa lente.....
O que tem por trás desses olhos? Olhos, janelas da alma!!!! Assim dizem os orientais. Se há uma janela, há um outro lado, se estamos num quarto, olhamos o horizonte, as margens de um mundo vivo. Um pulo, um salto, saltar para dentro do horizonte interno do homem, expansivo, almífero, olhar para o que a janela faz fronteira.
Escuro...... cautela...... tenho medo do escuro.............
Frio no estômago.............. túnel escuro.......... luz no final...........
Pessoas correndo num mar agitado.... chuva molhando nossas vidas, brotando sementes........... fogo, vulcão destruidor............ fortalezas de rochas. . . . .
Solidão no horizonte por trás da janela........ a alma do velho, alma cansada. Alma que não mais quer ser alma.... alma cheia de tanto vazio, alma devoradora de reflexos, de ilusões.
O velho se levanta ao anoitecer, retorna à sua casa, dorme, em sono voa com suas asas, decai, lembra-se de que sonho é apenas desejos realizados, corta suas asas com um punhal, decai, acorda, caminha e senta no banco da praça alimentando sua alma com os reflexos da vida.

- Ensaio de uma despedida -
































Sinto cordas enlaçando em meu pescoço, roubando – me o ar, ar pesado, nuvens carregadas de melancolia, trovoadas e tempestades de lágrimas, choro, soluços. Esse é o mundo que visto do espaço é belo, gracioso, sorridente para o sol.




As ondas remexem e misturam tudo num vai e vem, o estômago enjoa, um falso enjôo uma falsa ânsia. Muitas coisas são atiradas numa caixa de papelão, ela enche, satura, estoura dos lados ou o fundo se abre despejando tudo e inutilizando a caixa.



A correria, muitas corridas, muitas maratonas, duas pernas, fortes por sinal, mas até as rochas mais duras racham. Sinto chover. É! hoje está chovendo, o horizonte hoje é cinza, a luz também é cinza.



Vejo uma mulher caminhando bem longe, não consigo ver seu rosto, um capuz o esconde, vem devagar, na velocidade do pavor, vem ceifando as plantações.



Minha vida vai morrer.....



Aqui é muito alto, os deuses escutam com mais facilidade quando estamos no alto, nossos anseios, nossos desejos, nossos desesperos.



Ela está cada vez mais perto....



Ouço um assobio, é um amigo que se aproxima assobiando uma canção que me causa estranheza e traz diante de mim um oceano, as ondas vêm e vão trazendo tempestades. Não sei o que se aproxima, mas sinto uma inquietação...............



E se eu não voltar.....



Diga a todos que amo a todos.......................

- O Nevoeiro -



























O mundo se esconde por traz de uma névoa, todas as cores são turvas, todos os movimentos que vejo parecem se deformar no espaço. À sombra de uma árvore, não percebo as folhas caindo, nem a chuva da qual me escondo nesse abrigo, vejo apenas rabiscos no horizonte contorcido ao qual minha visão apenas vê nevoeiros, orvalhos, fumaça, imagens contorcidas que se esticam e se encurtam.




Um espinho no meio do caminho me parece uma pedra, mas apenas sei a diferença na medida em que furo os pés. Meu corpo, nunca vi nem o percebi, dizem que sou alto, grande, mas não percebo nada disso, dizem que o mundo é cheio de cores e formas distintas, mas só vejo fumaça, rabisco e imagens contorcidas.



Dizem também que algumas pessoas devoram suas próprias cabeças e a dos seus semelhantes, devoram também estômagos e corações, nem a alma escapou, esta já foi devorada há muito tempo por seres de cabeças grandes comedores de cabeças.



Não vejo o belo, mas também não vejo aquilo que da beleza é desprovido, não vejo o bem, mas também nunca vi a maldade sendo posta em prática, mas percebo a sombra em meio a tanto nevoeiro, sempre me sento e lá permaneço quieto.... muito quieto....



Assim permanecia todos os dias de minha até então não percebida miserável vida, percebida sim, mas não concebia nem imaginava tamanha miséria, até que um dia, escutei um barulho muito alto e o chão rasgou-se e cai. De desacordado acordei, levantei, gritei, percebi uma árvore diante de mim, mas ela não produzia sombras, mas algo totalmente distinto. Não sei do que chamam essa coisa totalmente oposta a sombra.



“Isso se chama luz” respondeu uma voz.



Caminhou em minha direção um homem que possuía asas longas, pegou-me pelos cabelos e me ofereceu uma fruta da árvore. Eu, sem questionar, comi o fruto, que tinha gosto de espelho e cheiro de reflexo. O mundo, num piscar de olhos havia mudado, via formas definidas e coloridas. Não compreendi o que havia acontecido e fui capaz, pela primeira vez, de ver a mim mesmo, e ao me ver via o mundo que entrava em mim e tornava-se corpo.



“Não foi o mundo que mudou, disse aquela pessoa, mas seus olhos que mudaram.”



Agora sei que durante muito tempo, minha vista era repleta de nevoeiros e fumaças inexistentes e que isso mortificava minha vida.

- Aquela que traz a canção no olhar -

Aquele que caminha no deserto segue rumo ao vazio
Mas, o que há no vazio além do nada?
Algo que está cheio impossibilita a expansão de uma grandeza.
É preciso dirigir-se para o nada e assim alcançar tudo.

Aquele que caminha no vazio do deserto, no nada, está só.
A solidão o envolve como uma névoa encobre uma montanha,
Faz frio, traz tristeza, mas também força e sabedoria sobre si.

Por que se retiras ao deserto? – ecoa uma voz no infinito do vazio.
O que busca no nada? – mais uma vez escutou a voz.

Sem nada compreender, fechou seus ouvidos e continuou sua caminhada.

Por que não responde minhas perguntas? – mais uma vez a voz.
Porque não falo com fantasmas. – respondeu o homem que caminhava no deserto.

Mas, ao dizer essas palavras, aquela de que originava a voz pôs – se diante dele, então pôde ver que tão misteriosa voz pertencia a uma belíssima mulher, diante da qual sentiu-se imobilizado.

O que deseja aqui no vazio? – perguntou a moça
Quero conhecer a verdade sobre os homens. – respondeu ele.
Então ela acolheu suas mãos em meio à dela, olhou em seus olhos e disse:

“Belos são os olhos, reflexos da noite no espelho
Tudo trazem, trazem até o que está no abismo
O coração fala uma linguagem, mas a alma entoa uma canção.

O que está na canção ilumina com um brilho
Fere uma outra vista,
Mas para ver é necessário observar, sentir, mergulhar no brilho que vem da canção,
Espelhado num simples e harmonioso olhar, um belo olhar.

Belo pela sua natureza, mas triste no compasso.”

Após dizer essas palavras o homem que caminhava no deserto olhou nos olhos da mulher,
Percebeu que deles escorria sangue.

Por que seus olhos sangram? Perguntou ele.
Você não compreendeu o que te falei? Retrucou ela.
Sim, mas por quê?
Porque me apaixonei por você, mas você só tem olhos para o deserto, é para lá que entoa sua canção.
Os grandes homens e os deuses se apaixonam, vivem e morrem a cada momento, e a canção se silencia, apaga-se o brilho, mas o mistério sempre permanece.

terça-feira, 13 de abril de 2010

- Seu Lar -


Páginas amarelas riscadas com tinta vermelha, uma volta, duas voltas.

No interior do seu livro, um jardim de flores guardadas em épocas distintas, todas as lembranças juntas transformam-se em história. A história, repito pra mim mesmo, os momentos do dia anterior quando o dia amanhece e junto com ele acordo.

Levanto e imediatamente salto para onde você está, mergulho para dentro de mim, busco sua imagem, a mais bonita que gravei em minha memória, observo com olhos virados para dentro, falo com a voz do coração para que somente você, que mora aqui dentro, possa ouvir. Pois aqui, para onde me atiro nos momentos de solidão, encontro com você, somente com você......

........... minha Jolie!!!!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

- O Alvorecer do Devir -
























Eu sou aquilo que sou
Construo a mim mesmo a cada momento.

Certo dia sentado a beira mar repetindo um ritual realizado por mim mesmo até o momento por toda uma vida.
Sempre do mesmo modo, sempre sentado, sempre olhando o mar e desejando que ele respondesse minhas perguntas.
A criança, que não mais é criança, o jovem sem seu vigor jovial, tudo constitui a sabedoria de um ancião que anseia pelo saber, e por isso persiste, insiste, fita o mar. Deseja escutar-lhe, deseja que lhe conte sua história ou qualquer história para que depois pudesse repeti - lá para aqueles que desejam saber.

Ao observar o mar em meu ritual vi surgir em meio as nuvem uma mulher.
O que é essa mulher, o que faz essa mulher, despida em meio ao frio gélido do oceano no inverno.
Aproximou-se, olhou-me e disse:
- o que fazes tu ó ancião, não vejo mais o brilho em seus olhos, apenas fumaça, névoa, tudo é tão obscuro. Por acaso a tua alma não entoa mais sua canção? Ou ela se esconde por traz dessa névoa?
- o brilho da melodia mais harmoniosa entre caos e harmonia não é acessível a qualquer um. Respondi.
- mas não há trevas obscuras o suficiente para que possam manter coisas escondidas diante da luz que ilumina.
- sei, mas nem tudo que se vê pode agradar a vista daquele que vê, mas sim surpreender.

Depois dessas palavras ela segurou minha mão, olhou-me nos olhos, seus olhos espelhavam o luar, o brilho do luar, essa era a sua canção, a canção cantada por sua alma.
Gotas de sangue escorriam de minhas mãos, a cada palavra que ela sussurrava dilacerava meu coração, a dor, sofrimento, o sacrifício pelo saber.

Minha alma, a muito quieta, entoou sua voz em meio à escuridão do meu frio olhar, um brilho que trazia sangue, dor, lágrimas.
Não há harmonia entre harmonia e caos, mas combate, guerra, construção de si mesmo a todo o momento. Pelo combate tudo nasce, tudo morre, pela harmonia tudo permanece, relaxa.

Fácil de compreender, difícil de executar o saber.
Palavras escritas no coração com uma navalha, pois cicatrizes não são esquecidas, não são apagadas.

Uma vez que se sabe não há como deixar de saber.

- O Filho do Caos -


Ao amanhecer vi nascer junto ao sol um novo sol, um novo astro, indenominável.
No horizonte núvens são esmagadas, montanhas derrubadas, o vento deixa de soprar e torna – se puro ar, tudo se silencia, até a alma dos pássaros se silenciam.
É uma guerra no silêncio, uma guerra de um homem só, mas as tragédias do conflito são esmagadoras, mortais, destroem o espírito, ferem a alma, fragilizam o corpo e a vista dos olhos.
O caos é criador, tudo o que é criador é cruel, tudo o q nasce provém da dor do parto. O caos criador a essa manhã gerou seu filho, descendente da guerra, descendente da desordem de espírito.
“Quem é o filho do caos e da desordem?” Perguntam os velhos sentados na praça.
“É aquele que vem com o alvorecer do dia, aquele que anda na corda bamba, aquele que é pura razão, pois o coração se escondeu do combate. É aquele que devora aqueles que o querem dominar, o submeter, arrancar suas mãos e suas pernas.” Responde o profeta.

Mas suas mãos e pernas agora são de aço, são firmes para caminhar em espinhos ou em solo rochoso, ou agarrar - se aos seus sonhos ou em si mesmo.
O demônio o tem visitado e jogado com ele, tem lhe dito verdades as quais os anjos ocultam por piedade da alma humana, o mal, a crueldade, tudo fazem parte da criação.
Tudo é alvorecer, o filho do caos agora reina no templo sacro, profana com suas sombras tudo o que está a sua beira. Bem e mal agora se equilibram, mas não mantêm harmonia, a guerra sempre continuará. Deve continuar!!!! Assim é o filho do caos, pura guerra, puro conflito, inferno e paraíso coexistindo no mesmo espaço, na mesma razão.

- Sonhos não Existem -


Soldado!
Pegue a passagem pro inferno que é impossível voltar.
Um foto de sua amada na mente levará
É o fim dos seus sonhos, só pense para casa voltar.

Bombas explodem, o sangue escorre pelo chão, milhares de jovens morrem em vão.

Ele caminha sobre os crânios que perguntam:
Por que essa destruição?
O inferno subiu para terra ou é sua imaginação?
Você chora quando vê as crianças que formam um tapete para a nação?

Arrasado com a arma na mão e selvageria no sangue,
Esmagará seus inimigos e destruirá suas almas
Só há ódio em seu coração.

Bombas explodem, o sangue escorre pelo chão, milhares de jovens morrem em vão.

E agora soldado que você caminha com a morte contando-lhe histórias em seus ouvidos.
Será que ela está te chamando?
Lutar, acreditar, viver até um último suspiro de esperança.

A sua casa!
A sua garota!
A sua canção!

Milhares de jovens morrem em vão!!!

- Aquilo que parece um Conto -


Somos livres para escolher nosso caminho
A luz e as trevas a guiarão pela estrada de espinhos
Mas é compreendendo o próprio coração que nos tornamos livres.

Agora você caminha, depois corre tornando-se leve até poder voar com as aves do céu.

A poeira de diamantes que entra pela janela cobre seu corpo,
Assim como meus braços que te envolvem na chama fria do fogo.
Seus olhos se fecham escondendo um mundo distante que desejo conhecer e saber.
Mistérios, mistérios da alma que se escondem, se guardam.
Mistérios sombrios como a poeira de diamantes, que além de bela e calorosa também é fria e mortal.

Somos livres para escolher nosso caminho
Mas cada coisa que escolhemos faz parte de um outro caminho totalmente diferente.
E é compreendendo a diversidade de caminhos apontados por nossa alma que nos tornamos livres.

Antes você caminhava, depois corria e agora voa com as aves do céu.

Os sonhos de seu coração exprimem a verdade escondida em meio a um nevoeiro.
O mar é um outro mundo escondido em seus olhos e
O céu está para mais além em você.
Somos livres para escolher o nosso caminho.

O céu e o mar encontram-se apenas no horizonte,
E o horizonte permanece intocável até o infinito.
Mas compreendendo que o céu e o mar sempre estão em harmonia e esperança seguindo o horizonte infinito, que sabemos da recíproca contemplação pela infinitude do tempo.

Agora que você voa com as aves do céu, pode saber que estou aqui esperando por você,

e se você voar até aqui irá me encontrar.

Eu prometo.

Lindas princesas não existem apenas em histórias.
Pessoas que podem voar também não existem apenas em histórias.
Tudo pode ser, tudo pode coexistir, existir, se criar e inventar.
A beleza do mundo é relativa aos olhos que o observam, ao tamanho do coração que o sente, e da mente que o compreende.

- Silenciar -


O que diz o homem que desceu da montanha e banhou sua cabeça sob as lágrimas geladas que das pedras escorriam?
Vou lhes dizer....
Silêncio, lábios cerrados....
É tudo isso que encontramos em sua face serena....
- Nem todos os ouvidos são fortes o suficiente como aço pra sobreviver ao peso da verdade. Nem toda mente é sólida como o aço para não desmoronar diante da verdade. Nem todo coração, ou talvez nenhum coração seja duro o suficiente para suportar a veredicto da verdade.
- O que é a justiça senão a ação do homem justo, mas baseado em que o homem justo mede as coisas?
- O que é o bem senão uma boa vontade, mas a boa vontade necessita de um executor, e quem nos garantirá a bondade de tal homem?
- O que é a beleza senão aquilo que encanta aos nossos olhos, mas somente aos nossos.
Tantas perguntas e tanto silêncio, aquele que conhece os mistérios apenas os guarda para si.
No silêncio não se escutam os gritos daqueles que se mantêm em silêncio.
No silêncio não se escutam aqueles que necessitam de socorro, pois estes se mantêm em silêncio.
No silêncio se escutam algumas canções, mas somente aquelas que vêm do brilho de um olhar, marcadas pelo compasso de um sorriso.
No silêncio os assassinos se movem, mas também os grandes heróis, esquecidos pela história dos cegos contadores de historias.

- Vontade do Nada -



Vontade...
Vontade de vazio.... vontade do nada..... vontade de alguma coisa que grita de dentro da rocha, do rochedo, por dentro dos muros das muralhas das fortalezas.
Vontade de caminhar por entre árvores, encontrar um banquinho em meio às sombras de folhas e flores floridas da primavera e me deitar.... deitar.... dormir..... dormir ao deitar, cochilar.
O vento sopra para longe meus pensamentos e me traz sonhos que pousam em minha imaginação....
Imaginação, está por trás do véu dos pensamentos, dos sonhos, das grandes idéias, dos grandes ideais.
Uma lembrança de algo esquecido, um vazio, pois não se sabe do que se sente saudade, mas a saudade daquilo que não se sabe é o nada... o nada não é o zero, nem o um, é o não saber... vontade de saber o não saber, querer conhecer e perguntar, vontade de nada, vontade de saber sobre o não saber da saudade daquilo que não se sabe de que....
O horizonte na janela me lembra o não sei o que, o vento fresco no verão me lembra alguma lembrança que não me lembro, o barulho das árvores balançando na noite, me recordam de um tempo em que vivi mas não lembro como vivi, de como eu existi, se existi....
Saudade, vontade do nada, não da ausência absoluta, mas de saber que não se sabe aquilo que sabe, o esconderijo, a toalha colorida, o sentimento de sentir por algo inteligível.
Vontade, bondade, amizade, minha idade, meu tempo meu temporal, tão amado, me faz sentir a sensação insensitível.
Deitado no banco, durmo, deitado sob as sombras das árvores, pensamentos vão, sonhos vêm, e o nada, a estranheza, a inquietação, não sei....
Não sei.....
Não sei..........
N............ a ......................d ............................a
....................................V .................a .....................z ................i ...................o

Vento e janela.

- Sobre o Futuro -


Aonde ir, em que pedra pisar
Quais os ventos frios aos quais devo seguir...
Não sei, de nada sei...
Tempestades de areia cortam o meu corpo,
E despedaçado ainda persisto no caminho
Num caminho sem horizontes, sem um ponto fixo ao qual devo olhar
Mas para que olhar? Para que tanto saber? Se tudo o que se passa o vento leva junto com a tempestade de areia!

Sangrando caminham, cantando permanecem,
Olhando para o alto e pisando em cacos de vidro, assim caminha a humanidade!
Mas o alto só tem estrelas longínquas que se apagarão algum dia.
Com isso se iludem aqueles que fogem do sentimento da dor dos seus pés rasgados e sangrentos...
Assim humanidade.... assim vocês caminham....
Assim seguem um atrás do outro, em fila, em ordem, entoando cânticos lacrimejosos.

A ilusão do céu estrelado ou a realidade de um horizonte vazio?
Um, o outro, ambos ou nenhum?
Para onde ir?
Aonde leva o caminho árduo, sofrido?
A busca pela fé ou pelo pragmático?

De nada sei!
Só sei que aquele que durante a sua jornada não tiver construído sandálias fortes o suficiente para não rasgarem durante seus passos perderão seus pés.

terça-feira, 6 de abril de 2010

- Sangrar -


Pegadas de sangue marcam por onde passou um animal ferido. Ele diz: “quero sangrar”, “quero que o meu sangue seja semente para repovoar o mundo quando eu me for”.
Já rasguei o meu coração, abri e pus as entranhas pra fora, assim posso respirar, com os retalhos vermelhos faço um cobertor, é quente, é místico, me leva a viajar e sonhar contigo.
O xamã mistura ervas e provoca visões, enxerga a terra sangrar, os animais tentam se banhar nesse sangue para salvar suas vidas, mas aquele que dentre eles é bípede e sapiente bebe esse sangue, enche seus estômagos, assim devora-se a si mesmo e a todos de sua espécie e de todas as espécies.
O animal que sangra é feliz, de seu sangue se erguerá árvores, de seus ossos, revigoramento para os animais, de sua pele, algo parecido com o homem, o “ser – humano”, igualmente bípede, igualmente racional, mas que jamais perde a ternura.

- O Voar -


Há homens que perseguem o mistério
Há outros que preferem o amor
Alguns a justiça

Tudo o que é raro e sagrado é mantido no escuro
Nas profundezas, guardado por seres flamejantes, mortais e devoradores de mortais.
Aqui só aos deuses é dado conhecer, o saber, a fonte da qual as feras humanas bebem da sua água,
Mas ao tornarem – se repletos dela a cospem no chão.

O homem que conhece as palavras mágicas para remover o véu e ver aquilo que os deuses vêem não mais retorna, não mais vive como compreendemos o viver.
Apenas salta aos ares diante de nossas vistas, apenas segue uma órbita, apenas encontra seu destino, construído a todo instante.

O voar... o bater de asas invisíveis....

um horizonte que a cada momento é diferente de si mesmo....

mas sem um adeus....

pois tudo é o todo......

- O oráculo -


Escuto passos...
Mas na realidade é apenas o meu desejo de ouvir seus passos e saber que você se aproxima.
Ouço vozes...
Mas não sei se devo confiar...
Muitas palavras são lançadas ao ar por desconhecidos...

Homens caminhando em fila...
Vendendo suas almas para comprar suas vidas...
Por fora o sorriso, mas no interior, amargura e angústia por compreender e não poder agir.
Estruturas que se racham, opostos que se chocam, uma luta, um combate...

Um mundo que se destrói a todo o momento...
Um mundo que afunda na escuridão a cada momento...
O que diz o oráculo? O que ele diz para acalmar o seu coração? Diz que não haverá uma guerra entre forças contrárias, em que pessoas amadas e queridas não mais serão vistas e a dor será a única certeza?

O que vocês pensam? Ó homens que caminham em fila e seguem a norma?
Vocês conseguem perceber suas estruturas racharem?
As forças contrárias causam o medo em vocês?
O que é essa inquietação, essa angústia?

DIGA!!!!!!

UM GRITO... UM SOLUÇO....

A espera pelo oráculo, a espera por saber sobre seu futuro, seu presente, seu passado...

Mas os homens continuam caminhando em fila...
Vendendo suas almas e comprando suas próprias vidas.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

- O guerreiro -


Quem é você que rasteja por migalhas?
Que tem os pés rasgados pela dura caminhada
Que tem as mãos sangrando devido aos inúmeros combates.

Quem é você que luta todos os dias e só tem a própria sorte,
A incerteza e nada mais?
Quem é você que não tem imagem refletida nos olhos das outras pessoas?

Quem és tu ó guerreiro...?
Submisso pela própria condição
Só os reis são lembrados como vitoriosos...
Os guerreiros, apenas lutam, a plebe, apenas trabalha,
Pilares dos reis, pilares escondidos e nunca vistos por aqueles que contam histórias.

Ao invés de lágrimas nos olhos, coragem...
Ao invés de lamento pelas feridas, orgulho pelas cicatrizes...
Ao invés de temer a morte, um convívio amigável, pois esta é a única certeza.

O guerreiro, aquele que guarda, que vela, instrumento do combate configurador de todas as coisas, sempre existente na luta, no combate de todas as épocas.

- A canção de uma alma -


Posso ouvir a canção que vem do brilho dos seus olhos,
e o brilho dos seus olhos queima minha vista,
Mas posso ouvir alguém gritar do fundo do abismo: Faça acontecer um caos interior! Para que você possa conhecer a verdade que há em você!

A água que inunda todas as cidades está secando e um mito novo irá surgir.

Quem irá contar? Quem irá ouvir?

Posso enxergar a névoa cinza que vem do brilho dos seus olhos,
e a névoa cinza dos seus olhos entristece a minha vista,
mas posso sentir que alguém não deseja mais estar no fundo do abismo.
Então, faça acontecer um caos interior, para que você possa conhecer a verdade que há em você.
A água que inunda todas as cidades secou,
Podemos agora inventar e contar historias do novo mito.

Quem irá contar? Quem vai querer ouvir?

As crianças já nascem velhas...
As crianças já fazem amor...
As crianças já possuem frieza diante da vida...
As crianças agora brincam com suas armas...
Há o advento de uma nova aurora, de um novo tempo, um novo amanhecer.....
Um recomeçar do mesmo e para o mesmo transformado e transformador.