domingo, 19 de dezembro de 2010

- O Encontro Consigo Mesmo - Cap. I - A Queda -



Posso sentir meu corpo cair, despencar velozmente e ultrapassar o limite do chão afundando-se no íntimo da escuridão do abismo. Dezenas, centenas de metros, corpo lançado ao fundo, cuspido do céu para cair nos domínios infernais. Mas não quero cair de vez, nem sei por que estou caindo, cair de vez pode significar minha morte, mas morrer talvez não seja uma má idéia, quem eu procurava não está mais aonde deveria estar e muitas pessoas morreram por mim. Talvez o meu espírito possua um valor maior que meu corpo e seja o suficiente para pagar o extermínio de tantas pessoas.


O peso de minha consciência torna meu corpo pesado, cair agora está no disparo, disparo para o fim ao encontrar com o fundo, morrer é a solução, é a justiça, a cada um.... a justa medida, e meu corpo não vale tantos milhares, minha alma não vale tantos milhares....

Meu corpo, ao encontrar – se com o solo no instante do impacto, se esfarela, a realidade do chão ao qual punha meus pés e agora deito o corpo para morrer, é dura. Espero um momento, mas a morte não vem. Ou será que é a vida quem vai? Morte é ausência de vida, então a vida deve se ausentar para que haja morte, que, na verdade, é apenas um espaço não mais ocupado. Se quero morrer, deixo então a vida ir, levanto-me do meu corpo e caminho, a morte está ali, lugar não mais ocupado, e eu, vida, vou. Vou não sei pra onde, caminho errante, caminhar no erro é aprender, mas que aprendizado há em provocar a morte de centenas de pessoas, mas tive que sair para encontrar uma pessoa. Mas se a pessoa não mais estiver, todas as mortes foram em vão.

Seria eu então feliz se não tivesse seguido o coração? E agora, no fracasso, sou eu feliz? Mas, se tudo tivesse dado certo, não estaria eu agora gozando de felicidades maiores? Às vezes, para termos mais e nos expandirmos, necessitamos arriscar perder aquilo que já temos em menor proporção. E eles, mesmo sofrendo derrotas, não seriam melhores se cada um se fortalecesse por si, do que confiarem toda sua segurança nas mãos de um só homem que julgassem ser o mais forte, mas que na verdade mal consegue voar com suas próprias asas? Não estaria eu então, assim como essas pessoas, desistindo da vida pelo fato de não ter mais confiança no futuro?

Voar por mim mesmo..... para alcançar um futuro..... mas o futuro é repleto de incertezas e há muitos “talvez”, mas a vida segue sua correnteza, leva para frente quem se deixa levar, arrasta, nos faz chocar com pedras pontiagudas, e as perfurações com que somos marcados por essas pedras nos fazem sermos mais fortes.

Após pensar essas coisas, consegui dar “um passo”, consegui “olhar” diante da escuridão do fundo do abismo ao qual caí e ver que há uma gruta ou algo parecido, já que o corpo ficou ali, pesado e gelado, resta-me caminhar puramente com o espírito.

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