domingo, 4 de julho de 2010

- Eternamente Pecador -



Eu, guerreiro viajante e devedor de minha própria consciência.
Quantos já não matei no corpo e no espírito.
Quantas almas já não despedacei com palavras ditas e não ditas, por olhares e gestos. Vi muitas pessoas caindo no abismo e não ajudei a reerguerem-se. Todas as noites sonho com lágrimas escorridas de diversos olhares de vidas doloridas e melancólicas. Vejo seus rostos em meus mais profundos pesadelos, isso me acorrenta e tortura fazendo meus olhos sangrarem durante os sonhos. Sou assombrado por tudo e a tudo que fiz a todos.
Às vezes nem entendo a mim mesmo, minha alma explode e toma o corpo em fúria. Sou pecador..... no fundo do abismo de dor que carrego no íntimo de minha alma torturo a mim mesmo. Sei, tudo bem, todo passou! Mas, e agora?
Ente melancólico e criminoso sou.... indigno de olhares e piedade.... carrego o lamento pelo passado sangrento em minhas mãos sujas. Pés rasgados e ouvidos abertos, à frente há uma montanha e no rochedo ao pé dela está presente no instante um homem que fala como um mestre, um grande mestre. Assim uns o chamam, outros comentam sobre ele, introduzindo veneno em ouvidos alheios, palavras imersas em covardia. Mas ele fala, gosto da sua fala, o seu falar tem autoridade, não precisa provar nada logicamente, meu espírito reconhece cada som de verdade que ele pronuncia.
Então, no meio da multidão que escutava seu discurso, levantou-se um menininho e pôs-se a correr em sua direção. Homens ignorantes e violentos o seguraram pelo braço impedindo-o de se aproximar do mestre. Então este levantou o olhar, olhou bem nos meus olhos. Por que ele me olharia dessa maneira? Não compreendi o porquê desse olhar. Será que ele quisera que eu interferisse por ser um guerreiro? Não, foi algo mais que isso. Ele, ao olhar em meus olhos viu minha alma e disse: “deixai vir a mim as crianças, pois delas é o reino dos céus”.
Não estava nem um pouco interessado nessa história de reino, há muito tempo não me submeto a nenhuma majestade, mas suas palavras fizeram - me sorrir, sorriso incompreendido. Por que sorrio se só causei desgraças a mim mesmo e aos outros? Não sei, não entendi tal idéia, mas meu espírito alegrou-se. Virei então em direção contrária aos seus olhos e caminhei.
À noite, sentado diante do mar obscuro, onde a única luz provém de estrelas longínquas e o único som é o romper das ondas. Nesse momento em que a única voz que se escuta é a do próprio espírito, este conversava comigo, e a sensação de peso havia ido embora. O que tais palavras seriam capazes? O que significa “deixar vir a mim as crianças, pois delas é o reino dos céus”? Esse reino de que fala parece ser um lugar muito importante, mas não me interessa o que seja. Mas, por que uma criança e não um santo? O santo não tem defeitos, é puro. A criança só traz aborrecimentos. Os santos não pecam, as crianças pecam a todo o momento e nem se dão conta de seus pecados.
Não pude entender, então silenciei meus pensamentos e pus – me a escutar a voz do meu espírito que dizia: “a criança é cheia de pecados, porém não se condena por eles, faz de cada erro aprendizado, por isso cresce”. “O que aconteceu serve para fortalecer, o que conta é do agora em diante”. “O conceito para ela nem sequer existe, o que existe para ela é si mesmo e o mundo, erros e acertos.” “O santo criou e abominou o pecado para fugir das dores da vida, esse é um grande escudo, defende-se como pode para não viver e sofrer, priva-se de aprender”.
O reino dos céus é para aqueles que são como crianças, que não se condenam por suas falhas, mas escrevem na própria alma o que aprenderam com seus erros.
Eu assim compreendi, mas os outros nem prestaram atenção, queriam apenas que ele os levasse para o reino dos céus, por isso não entenderam nada. Eu de nada quis saber desse reino, apenas parei para escutar por vontade de ouvi-lo falar. O significado de sua metáfora permanecerá por muitos séculos sem compreensão até que eu retorne e me recorde desse evento. E então comunicarei aos quatro cantos da terra.
Bendito sejam os pecadores, pois deles é o reino dos céus!

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