sábado, 2 de outubro de 2010

- Quezacolt e a constituição do guerreiro: das possibilidades. -



Caminhava eu pisando sobre a terra, pois há muito deixara de seguir pelos caminhos alagados do mar obscuro. A cada passo realizado compreendia um pouco mais sobre a vida como “instante de raio”. Confesso que, após ter assumido meus medos e minha covardia, tenho me sentido mais forte, quase consigo olhar nos olhos das pessoas que julgava serem mais fortes que eu. Percebi que, para ser ouvido, não necessito exaltar e entoar gravemente meu tom de voz, mas, falar calmamente sabendo o que se fala e respeitando meu próprio ritmo de fala, dessa forma, a presença diante dos outros se configura.




O horizonte que vejo é unidimensional, configura – se numa linha reta, minha visão é limitada e ofuscada. Mas, estou aprendendo a me manter de pé sobre o solo, os caminhos de correntezas por mim já passaram há muito tempo. A vida é um “instante de raio”, compreendendo um pouco isso utilizo minhas pernas e meus braços, rasgo o horizonte que se abre diante de meus olhos, os sons de trovão vital lançaram-se no aberto do horizonte. Pude ver então dois eventos, dois fantásticos eventos, e eu era o protagonista de ambos.


Trata-se de acontecimentos distintos que não se tocam, mas a origem deles é a mesma, encontram-se somente na origem e prolongam-se infinitamente para diversas direções. Sou ambas e sou origem.


Daqui de onde estou, posso dar um passo para cima, ou então.... para baixo..... Mas, um passo à frente não mais volta a ser passo anterior, pois assim se configura a escolha. Fecho os olhos, tenho medo, tudo isso me assusta, a novidade sempre traz consigo o pavor do desconhecido. Atiro meu corpo e o deixo cair lentamente num dos eventos, não mais vejo de fora, mas sim coexisto nele agora. Existo e existo nesse evento, por um momento é bom, prazeroso, mas depois minhas mãos começaram a sangrar, meus pés também. Sinto medo! Se estivesse escolhido a outra possibilidade não estaria sangrando agora, mas sim desfrutando de prazeres eternos.


O momento ao qual fazia parte perdia sua luz. Fez-se noite. Noite no dia? Não faz diferença para quem não deseja a visão e a escolha. Olhei para o céu, procurava luz. Onde há luz? Onde há sol agora nesse momento? A serpente alada mais uma vez sobrevoou a nuvem negra de meus pensamentos, fez do céu escuro sua morada obscura. Desceu, abriu a boca e de lá saiam feixes de luz.


“Quando se inicia a compreensão da vida como instante de raio cada passo é o primeiro e decisivo. Em cada decisão se ganha e se perde, cada possibilidade assumida significa o assassinato de todas as outras que da origem partiram para rumos distintos. Viver tentando ver o evento que poderia ter sido e lamentar-se pela perda é apagar o fogo que o raio deixa quando toca a terra. O que morreu está morto e, daquilo pelo qual se decidiu, deve - se abarcar cada milímetro de acontecimento. Vivemos contabilizando o que perdemos pelas possibilidades mortas e esquecemos o que ganhamos com o que assumimos, e ganhar pode ser prazer e desprazer, mas tudo é constitutivo, por isso deve ser aproveitado, só assim a origem é re-feita, somente assim vislumbra-se outros eventos e se escolhe por eles. Somente dessa maneira, a vida torna-se um jogo onde sempre se ganha, pois até mesmo a derrota nos honra como vitoriosos. Somente assim se torna “repleto de si mesmo”.”


Quezacolt mais uma vez partiu deixando-me um saber.


“Glorifiquemos então nossas derrotas e nossas desgraças, pois tudo nos é constitutivo.”

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