quinta-feira, 21 de julho de 2011

- O retorno das asas de metal -



Olhei ao longe e vi uma árvore, uma antiga árvore, parecia estar ali naquele horizonte há séculos. Minhas vistas de repente ofuscaram-se e senti necessidade de ir um pouco mais adiante. Quando se deseja saber alguma coisa é necessário se lançar no precipício e afundar no oceano. Aproximei – me e, no centro um pouco mais acima de seu tronco havia um círculo, mas, igualmente como minha vista, este permanecia ofuscado em sua própria natureza.


No mais profundo da escuridão do aprofundamento, a árvore, em sua realidade e também na minha, não mais era árvore, mas sim um antigo templo que insistia em permanecer coexistindo com toda a modernidade que havia ao seu redor. Curioso, caminhei ao seu redor para ver o que havia em seu interior. Uns dizem que não há nada mais profundo que a pele, eu, porém, sempre compartilhei da ideia de que o mais profundo é o interior, então, movido por essa convicção, procurei até encontrar uma porta. Simples porta. Seguindo meu desejo, empurrei e a abri. Entrei. E, ao passar pela porta, entrei eu mais duas pessoas que não havia me dado conta. Pude presenciar um culto primitivo que ainda se perpetuava, diante de um altar, um sacerdote e mais dois auxiliares executavam um ritual. Caminharam em nossa direção e fizeram símbolos em nossa testa e em nossa face, símbolos que, segundo eles, protegiam e abençoavam.

Depois disso saímos e, lembrando do semblante do sumo sacerdote do templo, pude o reconhecer e disse: “quem ainda está nesse templo é o Kelder”. Então minha mente entrou num estado de tempestade de memórias e de súbitos raciocínios, muita coisa passou a fazer sentido e senti ânsia de vômito que durou por todo um dia. De repente passei a amaldiçoar a benção que recebi e me senti adoecido, fraco, fracassado, todas aquelas imagens, a árvore, o templo, o sacerdote, ainda é ele, como pode? Benção? Maldição que me feriu na alma e que sangra sempre quando escorrego. Dor! O retorno da dor! Dor sempre retorna!

Nesse momento, negras e pesadas asas de metal surgiram novamente em minhas costas fazendo meus pés afundarem no chão e sangrarem. Há muito tempo havia aprendido a voar com elas e a voar sem precisar delas, mas, como tudo é um ciclo, tudo retorna, há menos que o ciclo seja desfeito.

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