domingo, 6 de novembro de 2022

- A queda do anjo cujas asas são de metal -


Às vezes o mundo se apresenta com tamanha leveza, que nos esquecemos que viver é voar com asas de metal. E esse é o maior de todos os aprendizados, pois nunca se finaliza e, pelo fato de abarcar inúmeras possibilidades de pesos distintos, faz com que o sentido ou o contorno que é dado pareça limitá-lo.

Fui um anjo enviado para te salvar, porém, eu, que via tudo claramente por manter-me nas alturas, me apaixonei tal como Eros por Psique. Não mais senti o metal de minhas asas me impelindo para os abismos. Gostei desse mundo e o colori com todas as cores disponíveis em meu pincel mágico. Você me fez querer ser criador de mundos.

Porém, algo ficou estranho, o mundo foi perdendo a cor, o metal foi ficando frio e pesado novamente. Havia certo cansaço, uma dor nas costas e, ao tentar me curar, encontrei um punhal, depois um e depois mais outro. Meu assassino agia nas sombras, mas era ele a própria sombra escondida por trás do rosto de porcelana. A sombra, nas sombras, tramava com outras, sorrateiras, trevosas. Uma delas parecia ser um igual, talvez esse fosse seu maior desejo, "ser à minha imagem e semelhança", como não é capaz de voar na mesma altura, resolveu cortar-me as asas para me rebaixar.

 - É você, meu amor, que me apunha-la pelas costas?
 - Você sabe, meu anjo e protetor, que nunca faria isso, é a loucura que te acomete.
 - Por que sangro então em meu coração?
 
Veio, em direção ao meu peito, uma lança, envenenada e esta era empunhada por quatro mãos.
A violência sexual é a maior prática de humilhação, assim, o anjo que voa com suas asas de metal permanecerá, caído, em uma cratera semelhante a um poço, até que consiga voar, novamente, com suas asas de metal...

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