sábado, 1 de janeiro de 2011

- O Encontro Consigo Mesmo - Cap. IV - O grande olho metafísico e a arte nas paredes da casa de vidro -


Como se entra em si? Atirando-se por inteiro. E assim o fiz, atravessei a grande boca. Não me importava com o que me aconteceria, mas permanecer é um sacrifício ao qual não quero me oferecer, é preciso se esvair, deixar o devir te levar e ir. Mais uma vez caí do alto com o rosto impactando no chão, mas dessa vez havia uma claridade meio turva e no chão estava escrito: “fundo do abismo”. Com dificuldade me levantei, pois estava muito cansado. Ao erguer a vista vi algo não antes visto entre tudo aquilo que se pode ver: uma menina, diferente e igual a todas as meninas nunca antes vistas por um único observador, estava presa numa casa de vidro, e um fantasma que se denominava “olho metafísico”, pois assim estava escrito nas paredes de sua retina. A menina, com suas mãozinhas, fazia pequenos buracos nas paredes de vidro, e o grande fantasma cuidava para mantê-la ali, pois observa-la era seu maior passatempo. Mas a menina nunca se cansava, sempre estava disposta a sair dali. Mas num momento de magnífico toque de arte, a menina, ao compreender que, não importando o que fizesse, o “olho metafísico” continuaria a olhar para ela, resolveu decorar a casa, com tintas das mais variadas cores pintou um enorme jardim nas paredes da casa, cobriu o telhado de sonhos e esperanças, e, em meio às flores pintadas, pintou uma porta a qual somente ela sabia como abrir e fechar, portanto sabia sempre como sair sem se render ao grande olho. O fantasma não gostava disso, pois assistir à menina diante das paredes de vidro alimentava sua força, passou então a tornar-se fraco, murcho, chocho, e se entristecia sempre que via como que a casa da menina ficava cada vez mais bonita.


Diante dessa visão que tive senti uma profunda vontade de rir, não contive, minha boca abrui-se numa gargalhada muito gozada.

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