Aquele que caminha no deserto segue rumo ao vazio
Mas, o que há no vazio além do nada?
Algo que está cheio impossibilita a expansão de uma grandeza.
É preciso dirigir-se para o nada e assim alcançar tudo.
Aquele que caminha no vazio do deserto, no nada, está só.
A solidão o envolve como uma névoa encobre uma montanha,
Faz frio, traz tristeza, mas também força e sabedoria sobre si.
Por que se retiras ao deserto? – ecoa uma voz no infinito do vazio.
O que busca no nada? – mais uma vez escutou a voz.
Por que não responde minhas perguntas? – mais uma vez a voz.
Porque não falo com fantasmas. – respondeu o homem que caminhava no deserto.
Mas, ao dizer essas palavras, aquela de que originava a voz pôs – se diante dele, então pôde ver que tão misteriosa voz pertencia a uma belíssima mulher, diante da qual sentiu-se imobilizado.
O que deseja aqui no vazio? – perguntou a moça
Quero conhecer a verdade sobre os homens. – respondeu ele.
Então ela acolheu suas mãos em meio à dela, olhou em seus olhos e disse:
“Belos são os olhos, reflexos da noite no espelho
Tudo trazem, trazem até o que está no abismo
O coração fala uma linguagem, mas a alma entoa uma canção.
O que está na canção ilumina com um brilho
Fere uma outra vista,
Mas para ver é necessário observar, sentir, mergulhar no brilho que vem da canção,
Espelhado num simples e harmonioso olhar, um belo olhar.
Belo pela sua natureza, mas triste no compasso.”
Após dizer essas palavras o homem que caminhava no deserto olhou nos olhos da mulher,
Percebeu que deles escorria sangue.
Por que seus olhos sangram? Perguntou ele.
Você não compreendeu o que te falei? Retrucou ela.
Sim, mas por quê?
Porque me apaixonei por você, mas você só tem olhos para o deserto, é para lá que entoa sua canção.
Os grandes homens e os deuses se apaixonam, vivem e morrem a cada momento, e a canção se silencia, apaga-se o brilho, mas o mistério sempre permanece.
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