Passei
Passei rápido demais,
As pessoas dessa cidade reteram em suas retinas apenas minha sombra.
Minha sombra. Minha sobra. Ofusca-lhes a visão.
Não veem a mim em meio a essa cor cinza.
Passei e por um momento parei,
Enfiei minhas unhas por dentro de minha pele e arranquei minha carcaça escamosa, tão dura, tão seca, tão imóvel.
Retirei minha carcaça, minha carapaça, troquei de pele e larguei a antiga no meio do caminho.
As pessoas da cidade, com os olhos ofuscados pela sombra que deixei, observam minha carcaça e se perguntam: “Quem é tal homem caído no chão? Sempre imóvel, sempre rastejando no mesmo lugar. Quem será?”
Observam e definem, dizem ali ser homem e o guardam para a eternidade. Eu há muito passei e larguei no meio do caminho o que já não sou mais. Mas o que sabem sobre o que sou é apenas sombra e carcaça.
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