segunda-feira, 6 de setembro de 2010

- Futuro! -


Era festival de verão na terra do verão, verão eterno que se tornava inverno e todos queriam entender o porquê. Jolie caminhava por entre as barraquinhas que preenchiam as ruas empoeiradas do pequeno vilarejo. Já era noite, mas a noite que trás mistérios ainda se aproximava como uma nuvem de fumaça. Nuvem, efeito de fogo ou calor, causas de transformações e inversões. Dizia, há muito tempo atrás um pensador, que o fogo é o desvelador dos mistérios, é por ele que o oculto se mostra. Talvez ele estivesse certo.
Bom, o fato é que, Jolie, caminhando por entre as barraquinhas do festival, se deparou com uma que lhe chamou a atenção, a princípio nada de especial, se não fosse esta, a habitação de um senhor velho com uma barba branca bem comprida. O velhinho tinha um semblante que exalava simpatia, não demonstrava perigo, decidiu então entrar.
“Deseja saber seu futuro menina moça?” perguntou o velho. “Já sei, veio aqui para saber se encontrará um cara bonitão no festival de verão?” “Pois é, vocês jovens só pensam nessas coisas.... ó juventude....”
Jolie ficou meio sem graça, nunca imaginara que aquele velhinho que manifestava simpatia em seu semblante pudesse ser tão sarcástico. Mas algo ainda a mantinha naquele lugar. Olhou sobre a mesa do velho e lá percebeu haver algumas cartas ilustradas com símbolos que pareciam contar uma história. A história é o todo das cartas, porém nada de permanente, pois o que elas dizem se difere a cada instante, o que elas dizem se diferem de ouvido para ouvido.
Ela pensou, questionou sobre a possibilidade de se saber o futuro, porém esgotou todas as possibilidades dessa possibilidade. “Não é possível saber o futuro!”, concluiu ela, “nem ao menos sabemos o que é o “futuro””.
“Você sabe dizer sobre vários futuros, mas sabe o que é o futuro?” Questionou ela, pois o velho, se domina essa arte, deve saber a fundo sobre ela. O velho se surpreendeu com tal pergunta, e lembrou – se de um antigo mestre da arte do pensamento que se questionava sobre as coisas da mesma forma. Ele a olhou, coçou sua longa e branca barba, um instante de silêncio que parecia preceder o surgimento de qualquer som na origem das existências.
“O futuro não existe!” disse o velho.
“Como não!” Exclamou Jolie perplexa. “Você então é um enganador, ilude todas essas pessoas com falsas verdades”. Acusou-o manifestando um princípio de ira.
“Não existe futuro concreto, o futuro não é, mas pode vir a existir. Nos sistemas criados pelos humanos, pode-se chamar de lógica a arte que se assemelha ao que faço, a razão, porém o alcance da visão é curtíssimo, deseja apenas a certeza, o tracejo reto enquadrando tudo num sistema. A lógica da razão se apega ao conceito, isto é aquilo, determinado, movimento comum. Diante disso a razão dá conta, pois assim a vida segue uma lógica, porém esta pode ser quebrada. O movimento comum rompe-se por um raio, por um instante de raio, o que impera agora não mais é o conceito de futuro, mas sim a palavra “futuro”. Para o futuro abre-se o infinito, mas não uma linha infinita para frente, mas sim uma pirâmide, cujo único ângulo que se pode saber sua posição está no instante de raio. Quando um instante de raio ocorre novamente, reflete todos os outros instantes de raio ocorridos, atraindo a todos em unidade pela sua energia.”
“Digo-vos então menina moça, esse pensamento floresce em alguns homens sob palavras diferentes, mas em sentido é o mesmo, porém, quem tentar aproximar-se e capturar tal pensamento com seus conceitos, terá em sua arapuca apenas a sombra do reflexo.”
Jolie compreendeu então aquele instante de raio que ocorrera, e soube de onde conhecera tal pessoa, alegrou-se, pois havia se reencontrado com um antigo mestre de uma outra época.

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