quarta-feira, 29 de setembro de 2010

- Da arte de domar leões. -


A fera vem, sinto seu cheiro, escuto seus passos, sinto o deslocamento de ar que seu corpo causa. Olho no olho, morte no olhar, dentes afiados e compridos, dilaceradores de corpos.


A possibilidade de fera vem a cada amanhecer, ergue-se com o sol, ergue-se com o erguer de minhas pálpebras. A possibilidade de fera se efetua com o cair da tarde, com a finalização do sacrifício. A possibilidade de fera me é concretizada quando estou comigo mesmo.

Ela vem, sinto seu cheiro, escuto seus passos, sinto o deslocamento de ar que seu corpo causa. Vem, perseguindo a presa. Vem e me devora por dentro. Vem e fere minha alma. Meu corpo decai.

Eu... me afasto de mim....

A fera adormece parecendo estar morta, mas sempre permanece a possibilidade do retorno até que a fera esteja domada. Mas, mesmo domada pode romper as correntes, portanto, não nos preocupemos com a natureza e a natural.

Porém, há um tempo em que a morte vem e a fera morre. E o homem, pobre homem, acha que se tornou rei. Abro aqui para a arte, todo o tipo de pintura, todo o tipo de escultura, a arte sendo artista de si mesma. A isso chamo “assenhorar-se de si”, porém, não cometam o terrível erro de chamar tal grandiosidade de “ascetismo”.

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