quarta-feira, 29 de setembro de 2010

- Da arte de domar leões. -


A fera vem, sinto seu cheiro, escuto seus passos, sinto o deslocamento de ar que seu corpo causa. Olho no olho, morte no olhar, dentes afiados e compridos, dilaceradores de corpos.


A possibilidade de fera vem a cada amanhecer, ergue-se com o sol, ergue-se com o erguer de minhas pálpebras. A possibilidade de fera se efetua com o cair da tarde, com a finalização do sacrifício. A possibilidade de fera me é concretizada quando estou comigo mesmo.

Ela vem, sinto seu cheiro, escuto seus passos, sinto o deslocamento de ar que seu corpo causa. Vem, perseguindo a presa. Vem e me devora por dentro. Vem e fere minha alma. Meu corpo decai.

Eu... me afasto de mim....

A fera adormece parecendo estar morta, mas sempre permanece a possibilidade do retorno até que a fera esteja domada. Mas, mesmo domada pode romper as correntes, portanto, não nos preocupemos com a natureza e a natural.

Porém, há um tempo em que a morte vem e a fera morre. E o homem, pobre homem, acha que se tornou rei. Abro aqui para a arte, todo o tipo de pintura, todo o tipo de escultura, a arte sendo artista de si mesma. A isso chamo “assenhorar-se de si”, porém, não cometam o terrível erro de chamar tal grandiosidade de “ascetismo”.

sábado, 25 de setembro de 2010

- - Há “dez mil anos atrás” -


“Um dia, numa rua da cidade, eu vi um velhinho sentado na calçada


Com uma cuia de esmola e uma viola na mão

Havia muita gente ali parada para ouvir, eu então também parei. Ele agradeceu as moedas

E cantou uma música, que contava uma história

Que era mais ou menos assim...”

“Eu nasci há dez mil anos atras...”

Enquanto eu escutava aquela música, meus olhos correram por todos os rostos que se prestavam a contemplar tal arte. Todas as pessoas ouviam e gostavam. O velhinho realmente era talentoso. Mas, dois caras me chamaram a atenção, ambos usavam cafanhaque e óculos escuro. A música parecia falar diretamente à alma deles.

Terminada a música, esses caras subiram em uma moto, planejavam sair pelo mundo e fundar algo que chamaram de “sociedade alternativa”. Mas nada disso me importa, o que importava era o velho, falou de tantas coisas apaixonadamente, como alguém que sente saudade, que parecia realmente ter feito todas aquelas coisas e ter, realmente, dez mil anos de idade.

“Mas tudo isso é besteira....” Pensei em vóz alta.

“Viver não é besteira....” escutei uma vóz cair sobre meus ouvidos.

Virei os olhos para tras, o velho se aproximou, tocou em meu ombro e disse:

“A vida é um instante de raio na imensidão do céu e sua origem está nas grandes tempestades”

Dita estas palavras, desapareceu e continuou a caminhar pelas ruas da vida com sua cuia de esmolas e sua viola na mão, mudando o distino de todos os que escutam suas palavras atravéz de sua canção.

Anos mais tarde ouvi falar algo de uma “sociedade alternativa”, porém seus idealizadores não obtiveram muito sucesso com essa ideia....

Mas, com outras ideias, ganharam o mundo....

E suas palavras ganharam meus olhos e ouvidos.



(inspirado na música “eu nasci há dez mil anos atrás” de Raul Seixas e Paulo Coelho)

- Minha pintura -


Sinto que perdi o chão, não por caminhar nas nuvens, mas por cada passo parecer uma queda.


Sinto que perdi a direção, não por saber pra onde é o norte ou o sul, mas pelo próprio sol ter desaparecido do meu horizonte.

Dentro de minha casa, os móveis ficaram de pernas para o ar, não tem mais cama e nem cadeira para me sentar.

A janela para olhar a noite permaneceu, mas as estrelas sumiram do meu céu.

Vento frio, não tenho mais cobertor, nem calor, nem dia.

Horizonte aberto e opaco....

Toda a pintura que pintei guardei....

Aqui..... :. . : .: .: ...

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

- Final Fantasy VIII-

Squall:I'll be here...


Rinoa:Why...?

Squall:I'll be...waiting here...

Rinoa:For what?

Squall: I'll be waiting...for you...so...if you come here...you will find me. I promise!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

- Da sorte e do azar -


Em meio a uma tempestade, o céu anuviado, escuro e assustador, cobre a imensidão de toda a superfície terrestre a qual meus olhos alcançam. Meus olhos se perdem na poeira de chuva rala que cai da origem da tempestade. Tudo se inicia com um momento de serenidade que traz o pavor.
Uma imensidão de nuvens.....
Uma imensidão de terra.....
Eu, ponto insignificante na infinitude desse lugar.
Nesse mar de nuvens um homem lançou sua semente de trovão e em uma gota apenas, numa gota d’água apenas, esta semente fez habitação. Habitação que navega naufragada nesse mar celeste de tempestade.
Mar celeste de tempestade, parece que a toda terra deseja ferir com sua ira. Mas dos ferimentos e sangramentos provocados brota vida. A potência rompe o ato de casulo petrificado. Emerge árvore forte.
Semente de trovão que habita num pingo d’água, lançou-se céu abaixo, terra ou mar será seu destino certo. Mas sou um ponto na superfície. Qual a possibilidade da semente de trovão cair sobre mim? Acontecimento raro! “Coincidência”, co-incidir, incidir junto no mesmo mínimo espaço.
-))))))))&((((((((((+
Coincidência, caminhos construídos que se chocam e cruzam em semelhanças. Semelhanças? Necessidade!!!!!
Necessidade???? Ai, confusão.....
INCERTEZA!!!!!! “Não vejo o todo!!!!!!!!!!”
Mas, co-incidem.....
Mas, qualifico.... qualificação, me disse uma menina, que eu olhara nos olhos apaixonadamente, “só ocorre na repetição”. Praguejo ou abençoo o momento raro se este se repete no mesmo dia.
Lugar certo na hora certa!
Lugar errado na hora errada!

domingo, 19 de setembro de 2010

- Palavras que pousaram em meus pensamentos. -



Cortaram minhas asas e me puseram em uma caixa.
Mas, às vezes caio sobre mim mesmo.
Durante o dia inteiro senti medo e fui covarde.
Mas, agora, vislumbrei com brumas e penumbras nos olhos, a completude de estar repleto de si.....
......porém, isso acontece somente às vezes.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

- Lamento por você... meu amigo..... -


Está assustado???
A vida lhe persegue como um fantasma.
Arrasta atrás de ti suas correntes rompidas.
Vida lhe assombra....
E a ela você teme....
Quando tenta lhe tocar, dela se esconde erguendo seu cobertor.

Corpo cansado, cobertor pesado
Alma petrificada, alma de mármore....
Por que vês como um espectro? Nossas visões são interpretações, o que parece ser talvez não seja.

Sempre que vida bate à porta, você pula para trás do seu sacrifício cotidiano, deixa o corpo sangrar e esgotar, tampa os ouvidos, cobre a cabeça. Ela lhe chama a escolher, mas o tempo de possibilidade de escolha se encerra quando a moça do capuz negro se aproxima.
Ela vem, pedindo silêncio e causando dor. E quando ela chegar? O que você verá?
Rosto de mulher ou rosto de caveira?
E o que temia ser espectro agora o é de fato.

domingo, 12 de setembro de 2010

- Como escrever poesia -

Poesia não se constrói com palavras


Não se apreende e nem entende o dito.

Poesia vem, não a pegamos, ela nos pega...

E na surpresa nos surpreende com o nosso comum floreado.



Não questionamos, mas perseguimos o mistério

Não quero saber, quero percorrer.

Ela vem e nos arrebata, com grafite balbuciamos coisas que deixam rastros como cavalos selvagens correndo num campo aberto, sobem montanhas, passam por túneis, atravessam correntezas. Mas todos esses elementos são construídos pelos passos da cavalgada.



Ela vem e nos arrebata, a voz ecoa do oco de onde não há pensamentos.

Pensamento, matador do poema, cria labirintos e, se ela chegar, não mais terá pureza em seu aspecto.

Ela vem e nos arrebata, deve correr como um trem num túnel e, ao fim do túnel, se mostrar por inteira e a nós, com simples olhos mortais, ver e rabiscar algumas expressões sonoras em uma folha de papel.



Ela vem e nos arrebata, eleva as alturas da profundidade do que traz, meu corpo se debate, rodopia, faz poesia com braços e pernas, caneta, massa de modelar, lápis de cor. Sou intermediário arrebatado e inteiramente integrado, me desfaço e me faço, não sou eu, sou em mim para fora de mim.

Discurso da alma............ .


- Markt, deus e criador de marionetes -

Nada há a não – ser pequenos atos e movimentos, potências de grandes possibilidades, combustível para os santos do mundo.
Pequenos e reles seres rastejantes, bidimensionais, lanço sobre suas bocas famintas minhas cordas de náilon, com suas bocas fisgam, e assim os puxo para cima.
Desvelo-os para a existência, agora são vistos por mim e meus santos do mundo, me cultuam, mas disso não o sabem. Existir é me servir.
Pequenos e reles seres rastejantes, agora andam de um lado para outro, pensam pensar, mas seus passos os levam para onde minhas cordas de náilon exercem força.
Alegres estão, pois se abriram para a existência, mas mal sabem que cada instante de vida é um sacrifício de seu próprio sangue para o meu grande poder.
Existo nas entrelinhas humanas, meus santos me vêem como sou em si. Os servos sabem que existo, mas nada para eles passa de uma idéia e sombra de percepção.
Mas, aos reles servos e cordeiros imolados cotidianamente, não me oculto, converso com eles e atuo diretamente em outras formas, uns me chamam de “Jesus”, outros “Che Guevara”, uns ainda insistem que sou “Raul Seixas”.
Não importa, tudo foi abocanhado e devorado, logo logo a última gota do mar esquerdo se tornará negro.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

- Futuro! -


Era festival de verão na terra do verão, verão eterno que se tornava inverno e todos queriam entender o porquê. Jolie caminhava por entre as barraquinhas que preenchiam as ruas empoeiradas do pequeno vilarejo. Já era noite, mas a noite que trás mistérios ainda se aproximava como uma nuvem de fumaça. Nuvem, efeito de fogo ou calor, causas de transformações e inversões. Dizia, há muito tempo atrás um pensador, que o fogo é o desvelador dos mistérios, é por ele que o oculto se mostra. Talvez ele estivesse certo.
Bom, o fato é que, Jolie, caminhando por entre as barraquinhas do festival, se deparou com uma que lhe chamou a atenção, a princípio nada de especial, se não fosse esta, a habitação de um senhor velho com uma barba branca bem comprida. O velhinho tinha um semblante que exalava simpatia, não demonstrava perigo, decidiu então entrar.
“Deseja saber seu futuro menina moça?” perguntou o velho. “Já sei, veio aqui para saber se encontrará um cara bonitão no festival de verão?” “Pois é, vocês jovens só pensam nessas coisas.... ó juventude....”
Jolie ficou meio sem graça, nunca imaginara que aquele velhinho que manifestava simpatia em seu semblante pudesse ser tão sarcástico. Mas algo ainda a mantinha naquele lugar. Olhou sobre a mesa do velho e lá percebeu haver algumas cartas ilustradas com símbolos que pareciam contar uma história. A história é o todo das cartas, porém nada de permanente, pois o que elas dizem se difere a cada instante, o que elas dizem se diferem de ouvido para ouvido.
Ela pensou, questionou sobre a possibilidade de se saber o futuro, porém esgotou todas as possibilidades dessa possibilidade. “Não é possível saber o futuro!”, concluiu ela, “nem ao menos sabemos o que é o “futuro””.
“Você sabe dizer sobre vários futuros, mas sabe o que é o futuro?” Questionou ela, pois o velho, se domina essa arte, deve saber a fundo sobre ela. O velho se surpreendeu com tal pergunta, e lembrou – se de um antigo mestre da arte do pensamento que se questionava sobre as coisas da mesma forma. Ele a olhou, coçou sua longa e branca barba, um instante de silêncio que parecia preceder o surgimento de qualquer som na origem das existências.
“O futuro não existe!” disse o velho.
“Como não!” Exclamou Jolie perplexa. “Você então é um enganador, ilude todas essas pessoas com falsas verdades”. Acusou-o manifestando um princípio de ira.
“Não existe futuro concreto, o futuro não é, mas pode vir a existir. Nos sistemas criados pelos humanos, pode-se chamar de lógica a arte que se assemelha ao que faço, a razão, porém o alcance da visão é curtíssimo, deseja apenas a certeza, o tracejo reto enquadrando tudo num sistema. A lógica da razão se apega ao conceito, isto é aquilo, determinado, movimento comum. Diante disso a razão dá conta, pois assim a vida segue uma lógica, porém esta pode ser quebrada. O movimento comum rompe-se por um raio, por um instante de raio, o que impera agora não mais é o conceito de futuro, mas sim a palavra “futuro”. Para o futuro abre-se o infinito, mas não uma linha infinita para frente, mas sim uma pirâmide, cujo único ângulo que se pode saber sua posição está no instante de raio. Quando um instante de raio ocorre novamente, reflete todos os outros instantes de raio ocorridos, atraindo a todos em unidade pela sua energia.”
“Digo-vos então menina moça, esse pensamento floresce em alguns homens sob palavras diferentes, mas em sentido é o mesmo, porém, quem tentar aproximar-se e capturar tal pensamento com seus conceitos, terá em sua arapuca apenas a sombra do reflexo.”
Jolie compreendeu então aquele instante de raio que ocorrera, e soube de onde conhecera tal pessoa, alegrou-se, pois havia se reencontrado com um antigo mestre de uma outra época.

Whath s this life for - a canção da alma

- Poemas, asas e coração. -


Eu rasgaria meu coração
Para que nele você possa escrever seus poemas.
Eu lançaria mão os meus braços
Para que você vivesse em meus abraços.

Venha! Faça morada em meu coração.
Meu coração é pequeno e apertado, mas não quero que ao entrar nele retire suas asas.
Suas asas são fortes e por isso ferirá as paredes do meu coração.
Talvez faça algumas rachaduras, mas não quero que tire suas asas ao entrar...
Em meu coração.

Poemas, asas e coração, tudo entrelaçado no abraço apertado...
É minha tua canção.

domingo, 5 de setembro de 2010

- Quezacolt e a constituição do guerreiro -


Lancei – me então a caminhar por esse caminho de correnteza mar adentro, meus pés se agarram na lama presente na profundidade não tão mais profunda que meu corpo. Deslizo e às vezes um pouco de água salgada me entra garganta abaixo, minhas palavras têm se tornado pouco mais amarguradas, porém, o sal conserva as coisas por mais tempo e das impurezas resguarda. Palavras amargas, porém fortes.
Caminho de correnteza que leva para a boca da morte. Confesso que depois de ter decidido navegar por tal rota tenho pensado muito na morte e tais pensamentos tem me tirado a tranqüilidade serena de meus passos e olhares.
Olhares, olhos em direção ao abismo ao qual a correnteza me leva. Boca da morte. Serei submerso em instantes pelo desconhecido e obscuro fim certo de todo homem. Preparo-me, reúno toda minha sabedoria oratória, clamo a todos os deuses, tudo o que desejo é fugir de mim mesmo nesse momento.
Mas, à minha frente novamente turbilhão, surge a serpente, gigante como sempre, como sempre eternidade, arremessa-me para as alturas e distante da boca da morte me confronto com o chão, duro. Chão de ferro? Não, mas dureza terrestre. Gosto de sangue na boca, gosto de ferrugem. A serpente fita-me mais uma vez, mas agora não sinto medo, somente fúria, havia eu finalmente conquistado a boca da morte, pela primeira vez encarava algo de frente, pela primeira vez fazia algo com dignidade, e desse momento, fui privado.
Ela, porém, somente me observava, observava meus ataques de fúrias infantis, choro e gritos, vergonhoso, sei, mas finalmente manifestava algo de minha natureza, mesmo que infantilmente. Era raiva, sentimento originário, belíssimo, pois vinha do coração.
Suas bocas repletas de dentes abriram-se, percebi que a muito engolira o sal da água, pois suas palavras eram duras e fortes, mas purificadas de tudo o que é imprestável.
“Morrer dignamente se faz abrindo-se à vida diante da morte, não deixar-se arrastar para o abismo, ao abismo se desce numa empreitada por vontade e consciência, mas nunca por conformação. Conformar-se é faltar com virtude para consigo mesmo e para com a morte..... e a vida também.” Disse ela.
Enfurecido gritei: “vergonhoso para mim não é ser arrastado para boca da morte, mas sim viver pela misericórdia alheia, não me devorastes antes, pois não era digno o suficiente para ser adversário de alguém, mas agora, devora-me, não necessito de sua misericórdia para viver. Sou digno de ser derrotado e devorado, pois aqui, abro-me o corpo inteiro ao combate. De nada me diferencio de humanidade natural dos outros homens, não lhe deixarei partir sem com isso tiverdes arrancado e levado consigo minha alma.”
“Digno tu és” disse ela novamente, “conquistastes agora não somente o direito de morrer com dignidade, mas também um conhecimento do qual sou deus: há dois tipos de vida, um você já se lançou, e para isso é preciso coragem, o outro é necessário ganhar, e disso me diferencio dos homens, pois o perpetuo e o faço eterno em si mesmo. Então lhes digo: a vida é um “instante de raio”, cada instante de raio traz para si todos os reflexos anteriores e abre o infinito de possibilidades para frente anunciado no rugir de um trovão. O instante de raio reúne seus reflexos e tudo se dá em si mesmo tornando-se repleto do que se é. Os olhos alheios, pouco verão quando manifestares o instante de raio, mas confundirão seus reflexos com suas sombras. Reflexo é para si mesmo no instante de raio, sombra deixada é impressão do movimento comum. Você passará, mas os outros enxergarão seus reflexos como sombras. Reflexo é para si, sombra é para o outro, é um e o mesmo, mas depende do ponto de vista. Reflexo é verdade, sombra, opinião, porém a verdade da maioria das pessoas é sombra.”
Dita estas palavras, a serpente virou as costas e partiu para o mar obscuro dos caminhos de correnteza. “Qual o seu nome?” perguntei. E um rajado de vento forte soprou em meus ouvidos: “Quezacolt”