Olhei o abismo e me joguei no mar... nadei para bem longe...
tão longe que não escapei de minha própria consciência. Peguei um pássaro e o
segurei em minhas mãos, cuidei de sua vida, mas ele nunca mais pode voar. O que
roupei deste pássaro? Ao cuidar o tornei fraco! Tomava-o em minhas mãos e o
levava aos mais infinitos horizontes, ele sorria, mas voar para ele se tornou
uma atitude cansativa e desinteressada e, as vezes, para algumas criaturas, a
autonomia pesa demais. Então o pássaro se tornou pássaro de vontade fraca e de
asas emagrecidas e despenadas. O que torna belo é a livre ação daquilo que
somos impulsionados a ser e a negação dessas coisas é o despedaçar que
fragmenta esfarelando até a pura negação.
Um dia um grande mestre abandonou seu discípulo à boca da
morte, o discípulo então odiou seu mestre desde aquele dia e, desejando vingança,
venceu a morte fortalecendo seus braços, pernas e coração. Caminhou no deserto
de sua existência tornando-se forte a cada passo, até que em uma tarde qualquer
encontrou seu mestre, já não mais tão jovem quanto antes e, após ter dito – lhe
algumas palavras, perfurou seu velho corpo com um punhal.
Tempos mais tarde encontrei um pássaro e o tutelei, não o
abandonaria assim como fizera comigo meu mestre... assim havia eu decidido... e
agora vejo o mau que fiz a esse pássaro e o quanto minha superproteção e
cuidado o enfraqueceu... Agora lhe compreendo meu mestre... abandonando-me à
morte você me tornou vivo... e forte... minha autonomia não esmaga minhas
pernas... pena não ter te compreendido antes...
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