quinta-feira, 25 de novembro de 2010
- Escapulário -
Na morte por amor há beleza
Mas naquela pela justiça há maior nobreza.
Ei menino de cabelos castanhos!
Você tem o futuro na palma das mãos?
Eu só vejo um cemitério...
E minha pátria dorme num caixão sorrindo pra mim
Não sei mais.... viver é sorte?.... coragem é estupidez?.... amar é odiar?....
Morrer.... é a solução?
Somos do Estado reféns, jugam todas as pessoas e não são jugados por ninguém.
Somos irracionais, cegos, não percebemos que antes os dias eram diferentes...
E hoje todos iguais...
Santo, meu santo... do meu escapulário é o revolver...
Santo, meu santo... frio e blindado....
Viver é sorte? Coragem é estupidez? Amar é odiar? Morrer não é a solução?
SOLUÇÃO!!!!!!!!!!!!!!!
terça-feira, 23 de novembro de 2010
- Objeto e produto, a Maquinaria -
Vocês me deram um desejo
Me deram um sonho e um arbítrio.
Me deram o gosto e do que gostar
Me deram a verdade com a qual minto para mim mesmo e, em troca disso tudo, levaram minha vida...
Vida? Qual o significado do signo dessa palavra?
Não sei!
Tudo o que sei
Tudo o que é certo
É que sobrevivo...
Mergulhando em lágrimas, velando memórias, vontade a muito roubada. Doce ilusão, amarga desilusão, quando me acorrentam os braços e pernas e me lançam na masmorra, a vontade não satisfeita me assombra e a morte me apavora. Mas, quando vejo face a face a liberdade, não mais tenho a vontade... tenho angústia...
Sonhei com esse momento e só encontrei o vazio...
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
- Canção de silêncio -
A noite ainda entoava cantos de silêncio, a ausência de sons nos permite escutar a voz dos nossos pensamentos e os gritos de nossa alma. Assim permanecia o Cavaleiro Negro contemplando o céu que para ele voltara a ter estrelas desde o dia em que conhecera Jolie.
Sua alma era vácuo, silêncio, calmaria, mas, do vácuo surgiam mundos de sentimentos que afloravam, que emergiam, tudo era novo para ele, não sabia lidar com tais coisas, não reconhecia a si mesmo. Não conseguia ver além do breu de sua alma, escondia-se de seus próprios olhos. Mas, por quê? O mistério é sua essência, mas, com esse mundo novo que via brotar do seu íntimo, sentiu esperança em ver a si mesmo brotar de sua alma.
Mas, a noite ainda entoava cantos de silêncio, permanecia pura, sem o sol para profaná-la. Nessa ausência de tudo temos a nós mesmos. Lembrava-se de Jolie, tão frágil sendo carregada em seus braços, aquele rostinho desacordado. Lembrava-se do momento em que a pôs na cama e sentiu vontade de velar pelo sono dela, mas tinha que ir, sabia que não podia ficar, não queria ele ter fama de aproveitador. E também a senhorita Weltem o aguardava para saírem dos aposentos. “Mas, se pudesse, pensou ele no silêncio noturno, ficaria lá”, “mas.... se ela me pedisse.... ficaria ali.... somente ali..... velando pelo teu sono, pelo teu descanso, socorrendo-a de seus pesadelos”.
Estava ali, naquela noite, tinha somente a si mesmo, sentia frio, sua alma, até aquele momento era fria, mas passou a gerar calor e por isso sentia a frieza da noite. Pensou no que acontecera enquanto a noite ainda permanecia pura. Quando o sol nasceu, partiu para a floresta para alimentar seu espírito.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
- O Templo de Zeus -
O guerreiro, sem nome e errante, eternamente pecador, viu que a imagem do homem de asas de metal vista no espelho desaparecera e, em seu lugar, surgiu a imagem de umas ruínas muito antigas, pareciam templos consagrados há muito tempo abandonados. Esses templos eram sustentados por colunas de concreto que se estendiam para próximo do céu demarcado por sua vista.
“Curiosa imagem” – pensou ele – “curioso espelho” – pensou segundos depois. O espelho então começou a enlanguescer – se, esticou o quanto foi possível e necessário para cobrir todo o horizonte e, como num abraço, envolver completamente o viajante em sua realidade.
Sentiu-se confuso, nunca havia acontecido em sua vida tantos acontecimentos fantásticos em tão pouco tempo. Buscou em sua memória, tão vaga, tão pouca, o instante em que tudo isso havia começado. Remeteu-se então a um momento em que caminhava por um caminho tomado pelas correntezas de um rio e que seus pés afundavam e se prendiam na lama. Lembrou-se disso e seu coração encheu-se de tristeza. Deixou então sua memória conduzir seus pensamentos e viu que a imagem de uma serpente alada pairava em sua cabeça, disso jamais se esquecera, como poderia, impossível esquecer. Deu-se conta então que todos esses acontecimentos súbitos tiveram sua origem ali, diante daquela serpente alada que lhe dizia que a vida é um instante de raio na imensidão do céu.
Lembrou-se que não havia entendido nada e desde então havia decidido compreender tais palavras. Perseguia suas ideias que lhe escapavam como borboletas e, ao partir em busca delas, viu muitas coisas e conheceu muitas pessoas. Lembrou-se do homem com cabeça de leão que lhe disse para que não se envergonhasse de quem ele é, da mulher presa na rosa que abandonou sua permanente beleza para lançar-se mundo afora disposta a deixar que seu coração seja marcado por cicatrizes e costurado com linha e agulha quantas vezes fosse necessário, lembrou – se também de um filósofo que lhe presenteou com uma pedra filosofal e que a partir disso havia chegado até ali, diante do espelho, e visto um homem de asas de metal que repetia os mesmos movimentos que ele. Lembrou que já havia visto esse homem voando e decidiu que um dia também seria capaz de voar com asas de metal.
Parou, caiu de joelhos diante daquele templo e derramou lágrimas, surpreendeu-se, pois nunca havia antes chorado tão verdadeiramente quanto naquele momento, orgulhou-se de ser capaz de chorar, orgulhou-se de ter vivenciado o inimaginável fantástico da vida. Chorou verdadeiramente, pois se emocionava ao olhar para si mesmo, não era mais tão covarde quanto antes, mas também não era totalmente corajoso. A covardia sempre acompanha o homem, e até mesmo aos grandes heróis. A coragem é um anjo que pousa em nossos ombros, a covardia, um outro que se apoia em nossos calcanhares.
Nesse momento uma moça passava por ali, carregava ela em seus braços algumas ervas e, atravessando seu corpo, pendia um cantil com água. Comoveu-se ao ver um homem, já feito, chorando daquela maneira. Ficou preocupada e, com cautela, se aproximou.
- Está tudo bem com você? Perguntou a moça.
- Embora minha aparência não demonstre – disse ele – Nunca me senti tão feliz em toda minha vida.
- Feliz??? A moça nada compreendeu, achou tal homem muito esquisito, perdido ali, caído de joelhos e chorando. Talvez estivesse louvando ao deus do templo por alguma dádiva. Bom, decidiu não fazer muitas perguntas e confiar em sua hipótese. Pensou então em convidá-lo para entrar no templo.
- Venha – disse a moça delicadamente – você deve estar muito cansado, entre um pouco no templo comigo e descanse.
Ele concordou, decidiu entrar, mas não por curiosidade.... tá, estava um pouco curioso sim. Decidiu entrar.... mas não por querer descansar, um guerreiro nunca descansa..... tá, isso é bobagem, todo guerreiro necessita de descanso e ele não era uma exceção à regra. Mas, por que então decidiu entrar, se não eram estes nenhum dos motivos pelo qual decidira entrar? Estava ele aprendendo a ouvir o próprio coração e sabia que se dissesse para si mesmo que esses eram os motivos, estaria mentindo para si mesmo. Entrou, mas sabia o que o movia, a vida é um instante de raio, e viu-se encantado pela moça, talvez nunca a veria novamente, talvez, se não entrasse, nunca iria nem ao menos saber seu nome. Entrou convicto.
Caminhou olhando discretamente a moça, não sabia o que dizer, nunca seu coração havia se sentido daquele maneira, então, como se comportar?
- Qual o seu nome? Perguntou ele para a moça.
- Já tive uma “multidão” de nomes, pois a cada momento me sinto diferente, a cada momento escolho um nome que me caracteriza. E, agora, chamo-me Morgana.
- Morgana.... bonito nome..... significa o que? Alguma divindade? Disse ele com segundas intenções.
- Como sabe?
- Sei lá.... sabendo.... - ficou meio sem graça, mas continuou a falar mesmo assim – pois você é tão linda quanto e por isso pensei comigo: ela tão linda desse jeito, tipo..... sendo senhora dos seus nomes..... por que não escolheria se chamar como uma deusa bem bonita?.....
Ela percebeu que ele estava tentando ser “galante”, mas avisou logo.
- Aqui sirvo aos deuses.... – disse ela mas, no silêncio de seus pensamentos, escutou seu coração lhe dizer: poderia ser de outra maneira. Que tolice, reprimiu-se a si mesma, escolhi servir aos deuses, devo afastar tais pensamentos.
- E você, qual o seu nome? – perguntou ela querendo disfarçar para si mesma a voz que ouvira de seu coração.
- Boa pergunta... não sei qual o meu nome.... não me lembro de muito coisa sobre mim....
Ambos ficaram em silêncio por alguns instantes.
- Tive uma ideia!!! Disse ele.
- Qual?
- Você, com toda essa sua graciosidade, pode me dar um nome.
- Eu? Como assim?
- Vai lá, confio em você.
Morgana pensou, pensou um pouco mais, olhou para o rosto dele, analisou um pouco, pensou um pouco mais e concluiu.
- Héracles, vou te chamar assim. Pode ser?
- É.... – torceu um pouco o nariz – esperava um melhorzinho, mas, por ter sido você, será uma honra ser chamado por esse nome.
Caminharam mais um pouco e ele decidiu perguntar para ela a qual deus pertencia aquele templo.
- Esse templo pertence à Zeus, o maior de todos os deuses, quer que eu te conte um pouco sobre sua história.
- Gostaria sim, será um prazer lhe ouvir.
- No início existia somente o Caos e dele nasceu Gaia, a mãe de todas as coisas. Gaia vivia só e lamentava-se pelo fato de sentir sua fertilidade e não poder fazer surgir vida dela mesma, uniu todas as suas forças e gerou de si Urano para ser seu consorte e amante. Tiveram alguns filhos, mas Urano, temendo ser derrubado por seus filhos, os lançou para as profundezas da terra. Gaia ficou triste, sentiu raiva de Urano, como ele podia ter feito aquilo com seus filhos. Planejou então vingar-se. Necessitava de alguém dentre seus filhos que fosse forte o suficiente para derrubá-lo, para isso tomou a frente Cronos, que, com uma arma fornecida por sua mãe, castra seu pai Urano. Sem o falo, Urano perde seu poder e é separado de Gaia tornando-se o céu. Agora, a única forma de fecundar Gaia é através das chuvas que derrama sobre ela. Cronos, o tempo devorador, se fortaleceu e teve alguns filhos, mas temendo ter o mesmo fim que seu pai, os devorava. Porém um deles Gaia conseguiu salvar escondendo-o, e este era Zeus. Ele cresceu e se tornou forte o suficiente para matar seu pai, Cronos, e, ao fazê-lo, tornou-se o senhor de todas as divindades e portador dos raios e trovões do céu e seus filhos eram deuses.
Ele, ao ouvir, ficou fascinado por aquela história e, ao pensar sobre ela, compreendeu algo que tornava mais claro o que a serpente lhe dissera antes sobre a vida como instante de raio: Zeus, o senhor dos raios, matou Cronos, o tempo devorador. Aí está a metáfora, pensou ele, interprete quem puder.
Morgana percebeu nos olhos do viajante certo fascínio, algo da história que contara havia ressoado em seu interior. Os olhos dele brilharam e pode ouvir uma canção repleta de paixão e desejo, por ela e também pela vida. Sentiu vontade de, naquele momento, entregar-se a ele. Mas, não, como ousava pensar tais coisas, como ousava sentir tais coisas, havia ela jurado ser somente amante dos deuses. Mas pensou e escutou a alma dele falar por meio da canção, ele era um viajante, buscava um conhecimento que não se ensina, mas é escrito e marcado no corpo por uma força poderosa e conhecida, mas, quando se pergunta sobre “o que é essa força”, não mais a conhecemos. Força selvagem e indomável.
Sabia que a alma dele era capaz de sacudir o mundo em busca do que almejara, pois a vida é um instante de raio, e nada mais..... e nada menos..... Sabia ela que nunca mais o tornaria a vê-lo, trilhava uma jornada cujos caminhos ele mesmo deveria criar.
“Sua vida pode ser diferente....” escutou ela seu coração.
Héracles olhou para ela, mas os olhos de Morgana se desviaram do dele, então se lamentou e partiu. Triste por um lado, mas feliz por outro, pois, naquele momento esteve apaixonado e por isso tal momento valeu a pena. Caminhou alguns passos e, antes de sumir no horizonte, escutou um grito:
“ESPERE POR MIM!!!!!!!”
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
- O Alquimista (Paulo Coelho) -
Certo dia uma menina linda de quem gosto muito me pediu para ler uma estória para ela. Eu, meio sem saber uma estória especial, decidi pegar uma livro muito antigo da minha mini biblioteca, é este o segundo livro que tive, o primeiro emprestei a alguém que não me lembro e nunca foi devolvido. Este livro de qual falo, que decidi pegar e ler um trecho aleatoriamente, chama-se “O Alquimista” de Paulo Coelho. E eu, por acreditar que cada um deve seguir sua “lenda pessoal” e que o mundo possui uma “alma”, e que quando se deseja alguma coisa o “universo conspira ao seu favor”, decidi postar esse texto, pois acredito que nesse mundo o acaso às vezes não é por acaso, e as coincidências são muito mais que coisas que coincidem. Dedico aqui a todos esse texto que é parte da obra literária mais bela que já li.
“Eram livros estranhos. Falavam em mercúrio, sal, dragões e reis, mas ele não conseguia entender nada. Entretanto, havia uma ideia que parecia repetida em quase todos os livros: todas as coisas eram manifestações de uma coisa só.
Num dos livros ele descobriu que o texto mais importante da Alquimia tinha apenas poucas linhas, e havia sido escrito numa simples esmeralda.
- É a Taboa da Esmeralda – falou o Inglês, orgulhoso por ensinar alguma coisa ao rapaz.
- E então, para que tantos livros?
- Para entender estas linhas – responde o Inglês, sem estar muito convencido da própria resposta.
O livro que mais interessou ao rapaz contava a historia dos alquimistas famosos. Eram homens que tinham dedicado sua vida inteira a purificar metais nos laboratórios; acreditavam que se um metal fosse cozinhado durante muitos e muitos anos, terminaria se libertando de todas as suas propriedades individuais, e em seu lugar sobrava apenas a Alma do mundo. Esta Coisa Única permitia que os alquimistas entendessem qualquer coisa sobre a face da terra, porque ela era a linguagem pela qual as coisas se comunicavam. Eles chamavam esta descoberta de Grande Obra – que era composta de uma parte liquida e uma parte sólida.
- Não basta observar os homens e os sinais, para se descobrir esta linguagem? – perguntou o rapaz.
- Você tem mania de simplificar tudo – respondeu o Inglês irritado. – A Alquimia é um trabalho sério. Precisa que cada passo seja seguido exatamente como os mestres ensinaram.
O rapaz descobriu que a parte liquida a Grande Obra era chamada de Elixir da Longa Vida, e curava todas as doenças, além de evitar que o alquimista ficasse velho. E a parte solida era chamada de Pedra Filosofal.
- Não é fácil descobrir a Pedra Filosofal – disse o Inglês. – Os alquimistas ficavam muitos anos nos laboratórios, olhando aquele fogo que purificava os metais. Olhavam tanto o fogo, que aos poucos suas cabeças ema perdendo todas as vaidades o mundo. Então, um belo dia, descobriram que a purificação dos metais havia terminado por purificar a eles mesmos.
O rapaz se lembrou do Mercador de Cristais. Ele havia falado que tinha sido bom limpar seus vasos, para que ambos se libertassem também dos maus pensamentos. Estava cada vez mais convencido de que a Alquimia poderia ser aprendida na vida diária.
- Além disso – falou o Inglês – a Pedra Filosofal tem uma propriedade fascinante. Uma pequena lasca dela é capaz de transformar grandes quantidades de metal em ouro.
A partir destra frase, o rapaz ficou interessadíssimo em Alquimia. Pensava que, com um pouco de paciência, poderia transformar tudo em ouro. Leu a vida de várias pessoas que tinham conseguido: Helvetius, Elias, Fulcanelli, Geber. Eram historias fascinantes: todos estavam vivendo até o fim sua Lenda Pessoal. Viajavam, encontravam sábios, faziam milagres na frente dos incrédulos, possuíam a Pedra Filosofal e o Elixir da Longa Vida.
Mas quando queria aprender a maneira de conseguir a Grande Obra, ficava completamente perdido. Eram apenas desenhos, instruções em código, texto obscuros.
- Por que eles falam tão difícil? – perguntou certa noite ao Inglês. Notou também que o Inglês andava meio aborrecido e sentindo falta de seus livros.
- Para que só os que têm responsabilidade de entender que entendam – disse ele. – Imagine se todo mundo saísse transformando chumbo em ouro. Daqui a pouco o ouro não ia valer nada.
“Só os persistentes, só aqueles que pesquisam muito, é que conseguem a Grande Obra. Por isso estou no meio deste deserto. Para encontrar um verdadeiro Alquimista, que me ajude a decifrar os códigos”.
- Quando foram escritos estes livros? – perguntou o rapaz.
- Há muitos séculos atrás.
- Naquela época não havia imprensa – insistiu o rapaz. Não havia jeito de todo mundo tomar conhecimento da Alquimia. Por que esta linguagem tão estranha, cheia de desenhos?
O Inglês não respondeu nada. Disse que há vários dias estava prestando atenção à caravana, e que não conseguia descobrir nada de novo. A única coisa que tinha notado era que os comentários sobre a guerra aumentavam cada vez mais.
Um belo dia o rapaz entregou de volta os livros ao Inglês.
- Então, aprendeu muita coisa? – perguntou o outro, cheio de expectativa. Estava precisando de alguém com quem pudesse conversar para esquecer o medo da guerra.
- Aprendi que o mundo tem uma Alma, e quem entender esta Alma, entenderá a linguagem das coisas. Aprendi que muitos alquimistas viveram sua Lenda Pessoal e terminaram descobrindo a Alma do mundo, a Pedra Filosofal, o Elixir.
“Mas, sobretudo, aprendi que estas coisas são tão simples que podem ser escritas numa esmeralda”.
O Inglês ficou decepcionado. Os anos de estudo, os símbolos mágicos, as palavras difíceis, os aparelhos de laboratório, nada disso havia impressionado o rapaz. “Ele deve ter uma alma primitiva demais para compreender isto”, pensou.
Pegou seus livros e guardou nos sacos que pendiam do camelo.
- Volte para sua caravana – disse. – Ela tampouco me ensinou qualquer coisa.
O rapaz voltou a contemplar o silêncio do deserto e a areia levantada pelos animais. “Cada um tem sua maneira de aprender”, repetia consigo mesmo. “A maneira dele não é a minha, e minha maneira não é a dele. Mas ambos estamos em busca de nossa Lenda Pessoal, e eu o respeito por isso”.”
(O Alquimista – Paulo Coelho)
Dedicado a você menininha....
“Eram livros estranhos. Falavam em mercúrio, sal, dragões e reis, mas ele não conseguia entender nada. Entretanto, havia uma ideia que parecia repetida em quase todos os livros: todas as coisas eram manifestações de uma coisa só.
Num dos livros ele descobriu que o texto mais importante da Alquimia tinha apenas poucas linhas, e havia sido escrito numa simples esmeralda.
- É a Taboa da Esmeralda – falou o Inglês, orgulhoso por ensinar alguma coisa ao rapaz.
- E então, para que tantos livros?
- Para entender estas linhas – responde o Inglês, sem estar muito convencido da própria resposta.
O livro que mais interessou ao rapaz contava a historia dos alquimistas famosos. Eram homens que tinham dedicado sua vida inteira a purificar metais nos laboratórios; acreditavam que se um metal fosse cozinhado durante muitos e muitos anos, terminaria se libertando de todas as suas propriedades individuais, e em seu lugar sobrava apenas a Alma do mundo. Esta Coisa Única permitia que os alquimistas entendessem qualquer coisa sobre a face da terra, porque ela era a linguagem pela qual as coisas se comunicavam. Eles chamavam esta descoberta de Grande Obra – que era composta de uma parte liquida e uma parte sólida.
- Não basta observar os homens e os sinais, para se descobrir esta linguagem? – perguntou o rapaz.
- Você tem mania de simplificar tudo – respondeu o Inglês irritado. – A Alquimia é um trabalho sério. Precisa que cada passo seja seguido exatamente como os mestres ensinaram.
O rapaz descobriu que a parte liquida a Grande Obra era chamada de Elixir da Longa Vida, e curava todas as doenças, além de evitar que o alquimista ficasse velho. E a parte solida era chamada de Pedra Filosofal.
- Não é fácil descobrir a Pedra Filosofal – disse o Inglês. – Os alquimistas ficavam muitos anos nos laboratórios, olhando aquele fogo que purificava os metais. Olhavam tanto o fogo, que aos poucos suas cabeças ema perdendo todas as vaidades o mundo. Então, um belo dia, descobriram que a purificação dos metais havia terminado por purificar a eles mesmos.
O rapaz se lembrou do Mercador de Cristais. Ele havia falado que tinha sido bom limpar seus vasos, para que ambos se libertassem também dos maus pensamentos. Estava cada vez mais convencido de que a Alquimia poderia ser aprendida na vida diária.
- Além disso – falou o Inglês – a Pedra Filosofal tem uma propriedade fascinante. Uma pequena lasca dela é capaz de transformar grandes quantidades de metal em ouro.
A partir destra frase, o rapaz ficou interessadíssimo em Alquimia. Pensava que, com um pouco de paciência, poderia transformar tudo em ouro. Leu a vida de várias pessoas que tinham conseguido: Helvetius, Elias, Fulcanelli, Geber. Eram historias fascinantes: todos estavam vivendo até o fim sua Lenda Pessoal. Viajavam, encontravam sábios, faziam milagres na frente dos incrédulos, possuíam a Pedra Filosofal e o Elixir da Longa Vida.
Mas quando queria aprender a maneira de conseguir a Grande Obra, ficava completamente perdido. Eram apenas desenhos, instruções em código, texto obscuros.
- Por que eles falam tão difícil? – perguntou certa noite ao Inglês. Notou também que o Inglês andava meio aborrecido e sentindo falta de seus livros.
- Para que só os que têm responsabilidade de entender que entendam – disse ele. – Imagine se todo mundo saísse transformando chumbo em ouro. Daqui a pouco o ouro não ia valer nada.
“Só os persistentes, só aqueles que pesquisam muito, é que conseguem a Grande Obra. Por isso estou no meio deste deserto. Para encontrar um verdadeiro Alquimista, que me ajude a decifrar os códigos”.
- Quando foram escritos estes livros? – perguntou o rapaz.
- Há muitos séculos atrás.
- Naquela época não havia imprensa – insistiu o rapaz. Não havia jeito de todo mundo tomar conhecimento da Alquimia. Por que esta linguagem tão estranha, cheia de desenhos?
O Inglês não respondeu nada. Disse que há vários dias estava prestando atenção à caravana, e que não conseguia descobrir nada de novo. A única coisa que tinha notado era que os comentários sobre a guerra aumentavam cada vez mais.
Um belo dia o rapaz entregou de volta os livros ao Inglês.
- Então, aprendeu muita coisa? – perguntou o outro, cheio de expectativa. Estava precisando de alguém com quem pudesse conversar para esquecer o medo da guerra.
- Aprendi que o mundo tem uma Alma, e quem entender esta Alma, entenderá a linguagem das coisas. Aprendi que muitos alquimistas viveram sua Lenda Pessoal e terminaram descobrindo a Alma do mundo, a Pedra Filosofal, o Elixir.
“Mas, sobretudo, aprendi que estas coisas são tão simples que podem ser escritas numa esmeralda”.
O Inglês ficou decepcionado. Os anos de estudo, os símbolos mágicos, as palavras difíceis, os aparelhos de laboratório, nada disso havia impressionado o rapaz. “Ele deve ter uma alma primitiva demais para compreender isto”, pensou.
Pegou seus livros e guardou nos sacos que pendiam do camelo.
- Volte para sua caravana – disse. – Ela tampouco me ensinou qualquer coisa.
O rapaz voltou a contemplar o silêncio do deserto e a areia levantada pelos animais. “Cada um tem sua maneira de aprender”, repetia consigo mesmo. “A maneira dele não é a minha, e minha maneira não é a dele. Mas ambos estamos em busca de nossa Lenda Pessoal, e eu o respeito por isso”.”
(O Alquimista – Paulo Coelho)
Dedicado a você menininha....
terça-feira, 2 de novembro de 2010
- O lago, alma de lágrimas (continuação da estória) -
Jolie caminhou sobre as águas do lago, ergueu delicadamente seus olhos para o céu estrelado e fitou a lua. Nunca havia visto a lua daquela forma e tamanho, surpreendeu-se com tamanha energia emanada pelo astro. Fechou os olhos por um instante, seus lábios pronunciaram algumas palavras que até mesmo ela desconhecia saber. As águas giravam sob ela formando um redemoinho que ascendia a um abismo de águas. Sentia, a cada gota que tocava sua pele, que não se tratava de água, mas sim de lágrima ancestrais derramadas desde o princípio da vida, desde o princípio de GAIA.
Ahhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!!! Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!!!!!
Uhmmmmmmmmm Uhmmmmmmmmmm
Tudo girava, o universo girava, o lago não mais era lago, o lago era alma de lágrima, alma de terra, alma de tudo e de nada. O lago é galáxia, estrelas e turbilhões de constelações, furacões de gritos e gemidos, vendaval de fogo e soluços. Mulher chorando, mulher triste, abandonada por todos que amou....
“você se foi e continua no mesmo lugar.... faz – me buracos, arranca – me os dentes, bebe o meu sangue, risca de cinza meus olhos. Não posso mais ver estrelas.... nem o sol e o calor de seu abraço... meu amante....... filho, por que me arranca os dedos? Por que queima meus cabelos? Por que envenena meu sangue? Não sabe que ao beber meu sangue envenena-se a si mesmo?”
“Cortina de sangue já veio, vento de morte sempre venta e traz bons ventos. TERRA, VENTO E AR, todos arrastados à decadência da morte, mas o FOGO nunca decai, nunca apodrece e nem sucumbe diante de suas mãos imundas. O FOGO há de vir julgar e separar. Purifica ó FOGO aqueles que caminham sempre contigo desde o princípio de todos as coisas”
A mulher ergueu o rosto e devorou Jolie com um olhar avassalador, devorou toda a sua coragem e força, e todo o universo voltou a ser simplesmente lago. Jolie abriu os olhos, percebeu-se sobre as águas, mas o medo a perturbava de tal forma que não mais conseguira concentrar-se, caindo nas profundezas do lago.
Caía e seu corpo afundava, afundava nas lágrimas derramadas pela lua refletida em sua própria dor, refletida em seu próprio sangue. É a morte que vem, pela água, pela lágrima, pelo sangue, Jolie percebera que afundara na tristeza de GAIA e lá seus pulmões se encharcariam nas lágrimas da alma do mundo e não mais poderia expirar um sopro de vida sequer.
Ele vem, movendo – se rápido pela floresta, corre o cavaleiro negro sem sua armadura negra, caçador de caçadores, corre, salta e mergulha no lago. Com um de seus braços apanha Jolie e a leva à superfície. Paula Weltem corre para ajudar no socorro e Jolie aos poucos livra-se do pânico e recupera a consciência. Ergue seus olhos e percebe que havia sido salva pelo Cavaleiro Negro, mas estranha, pois nunca antes o vira sem sua armadura, percebe que seu corpo é repleto de símbolos tatuados. Aqueles símbolos lhe pareciam familiares, mas os que cobriam os braços dele lhe chamaram a atenção, eram dragões tatuados que prolongavam a cabeça em direção às mãos.
Sabia saber o significado daquilo, mas não se lembrava. Por um instante sentiu-se segura e adormeceu. Assim Paula Weltem e o cavaleiro negro a levaram de volta ao seu quarto.
para saber o que ocorreu antes: http://acancaodeumaalma.blogspot.com/2010/05/o-olhar-da-deusa.html
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