O jovem marxista grita em meio ao seio de sua miserável existência: “a burguesia esta cheia de pseudos artistas”. Vou lhes dizer agora o novo padrão de vida pautado numa ilusão. “Vivo intensamente”, diz o jovem burguês, “devo me divertir, pois assim é que se vive intensamente, miseráveis os que não o fazem, encurralados permanecem no canto da humildade, temem minha alegria, agito, agito, giro e agito, assim vivo intensamente o instante com uma multidão de gente. Aos miseráveis, resta a solidão, a barbárie e ausência de poder executar o que executo”.
A nobreza da arte burguesa. Nobreza feudal, título de nome, rotulação sem corporificação, arte nobre burguesa, rotulada, amontoado de composições saturadas de técnica, voz, cordas, som. Arte, pensamento e sensibilidade que toma corpo, o corpo de homem tomado, artista, criador, configurador de corpo. O corpo para alem de seu corpo, extensão de si para si, si contempla. Contemplado por outros, artista. O diferente não está no igual, mas no adverso. O centro é todo si mesmo, mas as margens possuem contato com o extraordinário. O sertanejo e o seu sertão, voz levada pelo vento, canção sertaneja, sensibilidade e pensamento do sertanejo, corpo para alem do corpo, arte, extensão de si. Funkeiro, sua realidade, a música vibra no morro e faz tremer a burguesia que pensa compartilhar, mas não vivenciam aquilo que tomou corpo. Tremer e dançar se distinguem.
Rouba-se da margem e configura em técnica, pensa pintar a tela, mas antes se pergunta ao professor quais cores se mistura para fazer um contraste. Algumas coisas doem, mas não são todos assim, a dor por traz da burguesia, não as pessoas, coitados, ainda descobrirão o mundo assim como descubro a mim mesmo para mim.
Sobre mim, pareço viver meus últimos dias, últimos dias para o quê que vivo? Sou bicho do mato, o cheiro de civilização não me faz bem, sou selvagem, mas retraído traindo a mim mesmo, sigo pela emoção. Não sinto prazer em reproduzir os parâmetros de vida intensa, tal intensidade é falsa e não alcança o instante de vir a ser o que se é. Por isso sou selvagem, não quero ser domado, não suporto padrões disfarçados em intensidade. O agora nunca é instante.
A vós, homens civilizados, devorarei as entranhas de seus filhos com meus pensamentos, serão homens sem pernas, pois os farei reconstruí-las por si mesmos.
Mas há algo que me apavora, que me faz sentir medo, e quanto mais busco minha pedra filosofal, mais me aproximo daquilo que me causa medo, e então a dor é inevitável. Dor, abismo profundo na alma e no coração, profundidade. A este caminho é designado aos mais fortes percorrerem, e quando encontram sua pedra filosofal a trazem para a humanidade, porém, pouquíssimos conseguem perceber, pois necessitam de razão.