quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

- O treinamento de Thor -



Thor treinava todos os dias incansavelmente desferindo socos e chutes no ar, porém, os efeitos e o crescimento espiritual nas artes marciais só apareceram e alargaram os enunciados vitais de seu corpo quando aprendeu que precisava golpear o ar com punhos e pés de raio. Golpear o ar com punhos e pés de raio é assumir, apoderar e agir ativamente sobre a própria vida. O raio abre o instante transmutador possível e nos damos conta de que a mudança vem como uma forte correnteza e, golpear com punhos e pés de raio, é harmonizar-se com essa correnteza. Vida se faz vida no instante de raio.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

- A parábola do grande sábio -



O grande sábio, ao chegar ao cume da montanha com a verdade nas mãos, contemplou o mundo devastado. Esse foi o único e inebriante momento de delírio e desprezo por si. Apertou a verdade entre seus dedos cerrados destruindo-a e, dos farelos luminosos que a constituíam, nasceram sementes de diálogo.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

- A Obra que Salvaria o Mundo -



Houve em tempo em que éramos amigos, amigos de pouco tempo. Porém, lutávamos lado a lado como veteranos de guerra. A necessidade é algo não planejado e repentino e tivemos que nos dispor criativamente para irmos além de nossas condições e metamorfosearmos a nós mesmos, pois assim, haveria a criação da obra que salvaria o mundo e, consequentemente, nos obrigaria a recriar o destino ao qual obedecemos.

Embora a obra que salvaria o mundo seja uma obra compartilhada, as projeções e interesses que nos levam à obra são particulares. Você queria que esta obra, que salvaria o mundo, servisse ao mais puro céu, eu, porém, tinha como perspectiva à terra.

Os sete dias se passaram e a obra estava completa, pelo céu e pela terra nos degladiamos, nos ferimos e nos dispersamos, cada um com seu si mesmo despedaçado em uma caixa de ouro que pertenceram a um rei antigo.

Seu coração de nuvens, transpassado pelo punhal de minhas palavras. Você, de fato, agonizou e eu permaneci de pé, sou terra. Terra é minha progenitora e meus pés são raízes que se alimentam de sua vitalidade. Mil anos se passaram, cada ano para cada pedaço de seu coração de nuvem. Venho bater em sua porta, velho amigo e embrulhado em tecidos velhos da última guerra, guerra que tornou possível a criação da obra que salvaria o mundo, há algumas palavras de "sinto muito". De fato, essa era a última parte, o último selo para cicatrizar seu coração de nuvem. Fechou, cicatrizou e costurou com linhas rabiscadas com lápis cinza.

Nesses mil anos, recriamos a nós mesmos e criamos mundos particulares, pois este era o efeito da obra que salvaria o mundo, salvou o mundo pois tornava possível a criação de mundos particulares. Porém, após mil anos, você não compreendeu o sentido da obra. Nossos mundos não são os mesmos, não coabitamos o mesmo mundo, as perspectivas, interesses e vontades que traçam os vales, os rios e as montanhas são estranhas entre os mundos.

Portanto, para preservar a obra que salvou o mundo, destruí, com o mais frio e racional dos punhais, a ponte que ligava nossos mundos. A partir desse momento, além de diferentes nos tornamos estranhos e desconhecidos um para o outro. Nossas faces, quando se encontram nas ruas se desencontram.